segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Laudato Si, por Giselle Lourenço


Esta semana, o Papa Francisco faz aniversário. Estou concluindo a leitura de sua carta "Laudato Si" e, por ocasião de seu aniversário, colocarei no ar em meu canal literário um vídeo a respeito de minhas impressões sobre a Encíclica. Impactou-me de modo especial. Ele destina o documento a todos os homens de boa vontade e não só a cristãos. Mas, em minha humilde conclusão, seria importantíssimo se a maioria dos cristãos lessem. Na carta, ele nos adverte dizendo que, ainda neste século, presenciaremos conflitos mundiais pela escassez de água da maneira que temos presenciado os conflitos pela questão petrolífera. E também lamenta o fato de que muitos ainda insistem em não acreditar em uma questão tão séria. Dizem que o demônio age com mais liberdade quando não se acredita nele, né? Deixo vocês, nesse início de semana, com um trecho da belíssima oração de São Francisco:

Louvado sejas meu Senhor,
pela irmã Água,
que é mui útil e humilde
e preciosa e casta





domingo, 13 de dezembro de 2015

Cora Coralina, Raízes de Aninha

Começando a semana com uma dica especial de presente de Natal. Aqui, apresento a obra "Cora Coralina, Raízes de Aninha" - que é uma biografia de Cora Coralina que considero um divisor de águas na literatura entre as biografias já produzidas.  -   Por Giselle Lourenço


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

SCHOPENHAUER: A arte de escrever

O que há em comum entre Arthur Schopenhauer, Padre Antônio Vieira, Ítalo Calvino e Fernando Sabino? É o que vocês descobrirão ao assistir esta análise de Giselle Lourenço sobre a obra "A arte de escrever" de Schopenhauer. 


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Discurso de Giselle Lourenço sobre o "Dia do Vizinho", instituído por Cora Coralina

Discurso sobre o Dia do Vizinho, pronunciado no dia 20 de agosto de 2015 por ocasião da comemoração do aniversário natalício de Cora Coralina no encontro literário “O Poder da Palavras” em São José dos Campos, a convite da biógrafa de Cora e escritora Rita Elisa Seda.


Vizinho: palavra de origem latina (vicinus). Significa "aquele que é da mesma aldeia". Aldeia, por sua vez, significa "um loteamento de pequenas proporções".
Avizinhar-se então, poderia ser entendido como relação com aquilo que está perto. Foi assim que viveu seus dias sobre a terra a Dona Cora Coralina. Mulher que soube estabelecer uma relação com tudo que lhe rodeava:
Na vertical, sob seus pés, o mais próximo era a terra. Seu chão de terra, como ela falava. Uma vez percebido seus pés próximos ao chão, nunca mais deixou de reconhecer que a força e o sustento lhe vinham da terra. Foi uma cultivadora de terras, entre sementes, entre flores, entre frutos... No milharal de sua gleba, a expressão máxima de seu cuidado. Portanto, mulher vizinha da terra.
Na horizontal, percebeu que nenhum de nós é sozinho no mundo. Aprendeu, desde muito cedo, que a relação com o outro é o que nos dá uma ideia de nós mesmos e que é no trato diário com as pessoas que retiramos da vida o sumo bem. Entre amigos, construiu sua fortaleza de pedra. Portanto, mulher vizinha dos homens.
Mas há uma vizinhança em Cora Coralina que precisa ser compreendida para além da rua, para além do bairro, para além do prédio...
No tarde da vida - expressão dela própria - suas portas estavam abertas para o Brasil e para o mundo. Na mocidade, estava acessível a quem dela quisesse se aproximar, dado o teor de suas crônicas e a profundidade de suas exortações, pois só fala de coisas profundas quem não tem medo da intimidade.
Intimidade é algo que, hoje, está em desuso. Intimidade exige compromisso, exige cuidado. Não temos tempo para cuidar. Cada um por si; deus, se ainda não morreu na contemporaneidade, talvez não seja por todos. E assim seguimos, ignorantes do significado de "vizinho".
Avizinhar-se é para quem tem disposição, para quem tem vitalidade na alma. A mesma vitalidade que pulsava no coração da Mulher-Monumento de Goiás, que avizinhou-se do Brasil e que hoje, tendo deixado tão estimada herança em suas obras, nos ensina e nos inspira a uma vida mais vizinha.
Diziam os que conheceram Cora que ela mantinha zelo e cuidado pelas fontes e nascentes. Dizia que era necessário cuidar da fonte. Sabedoria ambiental e humana! Cuidar do vizinho é cuidar da fonte. A célula que manterá nossas relações e propulsionará a fraternidade universal começa em nosso raio de visão e de ação. Cuidando do vizinho, que é a luz da rua, cuidamos da fonte de energia que propagará o amor em nossos dias e para as gerações futuras.
Em sua mensagem, Cora dizia que a sua geração não a compreenderia... Portões trancados, correntes, cadeados, muros. É uma convenção trancar-se, e às vezes necessário também, pois desacostumamos do cuidado. Se alguém se abre, se doa, inspira outros à doação, dificilmente é compreendido. Eu receio que não somente a geração da poetisa não a compreendeu, mas também nós, ainda hoje, somos resistentes e ignorantes de muitas de suas mensagens. Estamos num processo. Aqui, nesta geração – a minha geração - começa um desvelar de Cora, recebendo sua mensagem com inquietações; mas ainda há muito a ser contemplado e um véu a ser rasgado sobre a grandiosa espiritualidade que abarca sua poesia viva e escatológica.
Faço votos de que, ao menos, o esforço da proximidade e da vizinhança seja, por nós, melhor considerado e que Cora, com seu arsenal de bons amigos, nos ajude a cultivar os nossos.
Encerro com um trecho/pergunta de sua autoria quando da apresentação do Dia do Vizinho em Andradina (1968), para que os brasileiros de meu tempo, tão carentes de vizinhança (e eu me incluo nisso), em um momento de incertezas e desencontros no qual vivemos, possam enxergar nos versos coralineanos algumas luzes para o cultivo de nossas fontes mais naturais:


"Por que nos fechamos tão hermeticamente na nossa rudeza individual se a vida nos põe sempre juntos em encontros frequentes e cotidianos e se temos tanto para dar de nós e tanto para receber dos outros?..."



Giselle Lourenço

* Cora Coralina propôs que fosse criado o "Dia do Vizinho" quando viveu em Andradina. A data sugerida foi a mesma de seu aniversário natalício (20 de agosto). Em 1968, quando Cora já havia voltado para Goiás, com o aval do prefeito, patrocinou  a publicação da "Apresentação do Dia do Vizinho" em panfletos que atestavam a adesão à causa. Esta data ficara marcada na memória dos andradinenses. 

Fonte: Cora Coralina, Raízes de Aninha. Ideias e Letras, 3ª ed., 2011

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Análise do conto "Negrinha", de Monteiro Lobato - Por Giselle Lourenço

O conto "Negrinha" foi produzido na década de 20 e é considerado o maior e mais dramático conto escrito por Monteiro Lobato. Revela uma fase que contradiz alguns rumores de que o autor teria sido racista e flertado com a eugenia em algum período de sua vida. Há, no conto, elementos marcantes que funcionam como uma espécie de grito para denunciar a mentalidade de um Brasil pós-colonial ainda com um forte resquício de relações perpassadas pelo racismo. Se por um lado, a obra "Caçadas de Pedrinho" foi considerada como apologética à uma possível perpetuação de pensamento racista, por outro, "Negrinha" demonstra este contraponto, o que leva muitos estudiosos e especialistas na literatura lobateana a investigarem cada vez mais todo esse mistério que envolve o pensamento e as produções do intelectual Monteiro Lobato. A mediadora/autora desta resenha possui algumas pesquisas e uma opinião "quase formada" a respeito dessas questões, mas deverá fazer esse tipo de abordagem num futuro um pouco mais distante. Há muito que ser desvelado, meditado e estudado com suor e paixão típicos de um amante da literatura e de um crítico literário.


sábado, 21 de novembro de 2015

Elementos Contemporâneos da Literatura Infantil

Este vídeo poderá interessar a pais e professores, escritores de obras infantis, mediadores de leitura, etc. Ressalto aqui, alguns elementos importantes da Literatura Infantil Contemporânea. 


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

FOGO MORTO, parte 2

FOGO MORTO, parte 2 (a parte 1 está no vídeo que gravei)

Hoje, acordei pensando no personagem Capitão Vitorino. Por que será? É uma mistura de Dom Quixote e Sancho Pança, justiceiro e, por vezes, ingênuo. Mas ele lutava contra todas as forças das quais o autoritarismo brotava: enfrentava o governo corrupto e também enfrentava o heroísmo hobinwoodiano dos cangaceiros. Ambas as forças usavam de tirania. Vitorino esbravejou contra qualquer potência que se valia do poder para oprimir e doutrinar. Enxergava o todo e a falácia das partes. Apanhou dos dois lados também. O que será de alguém que denuncia as mazelas políticas de todos os lados? Vitorino ganhou minha admiração por um tempo, até eu perceber que também ele aspirava ao poder político e que só por isso desvelava as armadilhas políticas e ideológicas de seus adversários. Perguntei-me então: onde estará um Vitorino que denuncie sem segundas intenções? Onde estará o justiceiro que desvele a tirania disfarçada de boa intenção por puro e simples princípio e amor ao conhecimento? Será que ele existe? Se eu sentar e esperar por ele, estarei como a maioria que espera um salvador da pátria ou um Dom Sebastião que banirá toda a maquinação política e toda a corrupção. Dom Sebastião não virá... O messias perdeu o trem. Apenas eu terei que dar conta de olhar o todo e enxergar as mazelas das partes. Mas como diria Edgar Morin, é essencial olhar o todo...

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Sobre a obra "Os Meninos Verdes"

Um pouco sobre a obra "Os Meninos Verdes", de Cora Coralina.

Obra: Sermão da Sexagésima


Um pouco sobre a obra de Padre Antônio Vieira, Sermão da Sexagésima.


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O Sebastianismo no Brasil

Essa semana, a OAB iniciou um seminário em São Paulo para debater as saídas para a crise. O lema que os magistrados e estudiosos do assunto adotaram vem ao encontro daquilo que eu sempre pretendi ser o mais digno: a sociedade civil pode e deve fazer algo. Esta é a proposta do seminário. Acompanhemos e façamos algo.
Há quem critique adeptos do sebastianismo, como o foi o próprio Fernando Pessoa em sua altíssima erudição. Esperar que um "Messias" político e soberano venha instaurar o reino da justiça e de paz em minha pátria à medida em que eu desenvolvo uma dependência dessa esperança e nada faça para contribuir com a mudança dos rumos da história política e social, de corrupção, pobreza, desigualdades, violência e tantos outros males que eu julgo ser relapso de quem está no poder é, no mínimo, pouca ética cível de minha parte. Tudo é culpa do governo, do Estado, e o governo que mude e que resolva aquilo que eu quero que seja resolvido! E se não resolve, que venha D. Sebastião, das cinzas reluzentes de sua áurea guerreira defender-me e destronar o intrépido reinante! E Sebastião, à essa altura, pode adquirir vários nomes, desses que são postos em bandeiras de partidos em épocas de campanhas políticas. 
Uma coisa é certa: nenhum desses possui o poder salvador de Sebastião, que até hoje está sendo esperado no purgatório lusitano. Estaremos nós, também, esperando pelo advento do justo soberano?
É difícil escolher um político. Quando me sinto mais irmanada com a terra que me acolheu, sinto pena de mim e de minha gente, num histórico político tão precário, com ausência de estadistas, com políticas que maquinam uma lógica de "o que fazer para manter-se no poder", e só. Avanços ou retrocessos nacionais são relativos, na medida em que me mantém com o cedro nas mãos. E pensar que o próximo imperador vai construir a utopia de Thomas More e varrer a corrupção para o incinerador é, no mínimo, uma debilidade mental.
Infelizmente, política mudou de concepção. Hoje, já se ensina que escrever "político corrupto" é pleonasmo dos mais antiestéticos. 
Ademais, lembremos uma passagem histórica muito significativa: quando a Companhia de Jesus foi expulsa do Brasil e de Portugal, o que estavam os jesuítas a fazer? Praticando seus deveres civis. Estavam denunciando a opressão do poder senhorial para com escravos, índios e camponeses. Hoje, vivemos em tempos mais amenos quanto a isso. Poderemos agir sem sermos expulsos ou exilados, embora alguns ainda queiram a brados retumbantes a Ditadura Militar... Mas uma coisa ainda é atual: o pleonasmo político. Quer ver? Já que falamos em jesuítas, vejam o que escreveu Padre Antônio Vieira há séculos atrás de nós:
"Não são só os ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para
lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem
os reis encomendam os exércitos, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados; estes furtam e enforcam." 

Viu? É por isso que, no ritmo da OAB, temos que fazer algo e pensar em saídas para a crise ao invés de olhar pro céu e esperar a vinda de D. Sebastião ou seja lá de quem for...

Giselle Lourenço


domingo, 9 de agosto de 2015

SAL DA TERRA


Assisti ao documentário "Sal da Terra" sobre a biografia do fotógrafo social Sebastião Salgado. Jamais imaginei tão densa e profunda vivência oferecida pela história de vida deste homem. O documentário é conflitante. Parece ter provocado em mim os sentimentos opostos de lamento angustiante e esperança.
Como não me questionar? Como não questionar que sentido estou dando à minha vida e que norte estou tentando ser para meu pequeno mundo?
Eu era ainda muito moça quando vi, pela primeira vez, algumas fotografias de Sebastião. Contemplava-as nas paredes do corredor de um mosteiro jesuíta no interior do estado de São Paulo, onde passei boa parte de minha mocidade. Lembro que as fotos interpelavam-me. Estabeleciam diálogo. Nunca os olhos de uma Monalisa acompanharam-me mais do que os olhos daquela gente de Ruanda ou da Etiópia. Tinha dia que eu gostava do diálogo, não tinha medo. Outras vezes, fugia deles. Demorou um tempo para perceber o motivo da fuga. São espelhos... Colocam-nos em contato com o que há de pior em nós porque parecem perguntar o tempo todo o que fiz por aquele Cristo que ali estava, suplicante de água, comida, afeto, partilha e comunhão. Aquele Cristo que esperava que eu desse de comer o meu pão. 
Sal da terra me fez perceber que corremos o tempo todo atrás do paraíso perdido. Nascemos já nessa corrida contra o tempo atrás de algo que sabemos nos pertencer ou já ter pertencido. O problema é que corremos em direção a este paraíso sem olhar pro lado. Queremos chegar sozinhos ao paraíso. Na maioria das vezes, julgamos ser a ambição o melhor caminho, a balsa mais indicada para o paraíso. E tem sido assim. Pegamos carona com a ambição ansiando chegar à terra prometida. 
Tentei questionar em mim o que é pior: a impossibilidade da aquisição ou a ambição diante da impossibilidade. Percebi que somos ambiciosos mesmo quando nos julgamos os mais mocinhos da história. Quando nos orgulhamos de nossas caridades e boas intenções, elas estão sempre caminhando lado a lado com as nossas ambições mais sórdidas. Ambições que se regadas, cultivadas e praticadas, colocam em risco o ritmo do outro e a lógica da partilha e da comunhão para as quais nascemos. 
Refleti um pouco sobre o quão ferozes e cruéis nós podemos ser. Temos um talento nato para a crueldade e para a opressão. Esse é um dado antropológico e ontológico. A história é cíclica e em todas as eras, o que vemos são as guerras e o egoísmo se repetirem... Com esse nó na garganta, às vezes, emerge em mim uma vergonha da minha espécie. Vergonha de minhas ambições e das ambições de meus amigos. Perguntei-me que mundinho é esse que eu ando vivendo e que mundo eu gostaria de ajudar as pessoas a conhecerem. Para evoluir um pouco, nem é necessário ir tão longe quanto foi Sebastião. Um giro em trezentos e sessenta em torno de nós mesmos e já teremos matéria bruta suficiente para trabalhar. 
A parte boa da conversa é que há uma chance de sermos redimidos. Assim como Salgado nos mostra na prática o movimento inverso, o seu Projeto Gênesis - o que ainda resta de bom em toda a terra, e nos fala que é possível reverter, a cada dia, o quadro borrado. A saudade do paraíso não precisa ser só saudade, pode ser esperança também. Ter um olhar universal para tudo aquilo que é bom é o mote para acreditar no homem apesar dele. O homem ainda tem jeito. O convite de Salgado a perceber que somos um com a terra e com toda a vida que dela nasce ainda é o fio condutor para o destino menos infeliz que possamos ter. Afinal, somos nós o Sal da Terra!
A parte não muito boa da conversa é que não seria aconselhável assistir ao documentário com pipocas. Elas não descerão!


Será apresentado no dia 25 de agosto, às 19h na Sala de Leitura do Parque Vicentina Aranha em São José dos Campos. Foi indicado ao Oscar de melhor documentário em 2015 e eu recomendo muitíssimo.


sábado, 8 de agosto de 2015

Minha homenagem tarda mas chega...

Aproxima-se o "Dia dos Pais"... É uma data bonita, apesar de eu ser daquelas pessoas chatas que atribui datas assim apenas à felicidade dos comerciantes e de um brinde ao consumo que nos puxa a todos nós para o fundo de um poço sem que percebamos. Mas, ok, não vou vender miçangas na praia, apesar de ser de humanas. Voltemos aos pais. Saúdo o meu também. Mas aproveito o momento para falar da paternidade adotada por vias não burocráticas. Se quiser entender como paternidade espiritual também, fique à vontade. O fato é que eu não sei se todos são tão sortudos como eu. Eu pedi à vida que me concedesse o dom de enxergar qualquer ser humano que de mim se aproximasse como oferta de cuidado, ensinamento e valores. Tenho percebido que várias pessoas, no decorrer de minha história, fizeram parte de minha vida só pra isso. Agradeço por perceber... Ainda hoje, tenho encontros "gloriosos" com pessoas que, em tese, nem olhariam pra mim pela diferença de significância. Mas ainda sim, tenho feito amizades e afetos inimagináveis. Alguns, eu também chamaria de pais. E não precisam, necessariamente, ser com "idade de meu pai". Se você olhar bem ao redor, vai perceber quantas vezes alguém foi pai pra você independente de idade. 

Faço uma homenagem póstuma. Vasculhando meu baú de papeis e de memórias, encontro algumas cartas do Irmão Costa - um irmão jesuíta que muito colaborou para meu crescimento humano. Trocamos correspondências por um período considerável de tempo. Não imagino onde tenham ido parar as cartas que lhe enviei. Ele, agora, não precisa mais de cartas ou palavras para comunicar sentimentos. Até hoje, não sei se seu corpo encontra-se sepultado na cripta da capela da Ressurreição em Vila Kostka ou se está em Belo Horizonte. Mas enquanto em vida, sua graça e sua alegria rechearam meus dias de uma paternidade amiga. Ser pai pode ser isso também: dar atenção e oferecer amizade estando longe ou perto. Fica aqui registrada homenagem e saudade do querido Irmão Costinha, o jesuíta mais amável que conheci - e olha que conheci muitos.
A todos os pais e filhos, um bom dia dos pais e aos comerciantes, que as vendas não cresçam tanto, pois um país que atravessa uma crise como a nossa continuar se entregando a um desejo primário de consumo desenfreado chega a ser falta de caráter mesmo... Vamos escrever cartas de presente, que tal?

Giselle Lourenço



segunda-feira, 27 de julho de 2015

Apaixonei-me


No meio do caminho, tinha uma vírgula. 
Ah, a vírgula! Foi assim que apaixonei-me...
Reticente... Aquele sujeito simples, mas ao mesmo tempo composto, e era cheio de aposto. Deixou-me em interrogação.
Mas uma exclamação era imperativa: ele sabia usar a vírgula!
No mundo, quem sabe usar a vírgula? Quase sempre, sujeito de orações independentes.
Não venham com prefixos ou sufixos sobre minha pessoa! Eu, realmente, acho singular quem a sabe empregar! 
Entrei em colisão e já queria uma oração declarativa.
Ele, um pronome bem pessoal. Eu, uma figura de linguagem de pensamento...
Pensei, pontuei... Vocativo: Eureka, é ele! Ele sabe usar a vírgula!


Giselle Lourenço
Eis aqui uma breve história sobre como o senhor meu marido conquistou meu coração pensante...

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Riqueza não traz felicidade - para além do jargão

Para além do jargão de que "riqueza não traz felicidade", nada como ver e ouvir uma experiência bem vivida. Assisti, por esses tempos, ao documentário "I am", do premiado diretor hollywoodiano Tom Shadyac, cuja história retratada é a dele própria.
No filme, Tom conta-nos como começou a perceber seu infinito vazio interior após um acidente que o deixou de cama e isolado das pessoas por meses. Não obstante seu patrimônio sempre em ascensão desde o início da carreira, a cada conquista, a cada luxo satisfeito facilmente pela fortuna que fez, a sequência de vontades e ambições continuaram infindáveis até que, obrigado a parar pela questão de saúde, pôde, finalmente, refletir sobre seus caminhos e a que plano estariam levando suas escolhas, e de repente, o que vemos no documentário é alguém que, após ter dirigido celebridades como Jim Carrey e Robbie Williams, encontra-se com grandes nomes mundiais de uma outra vertente (escritores, poetas, líderes espirituais) para a busca de respostas sobre o que é efêmero na vida e que, no entanto, as pessoas insistem em perseguir como que por convenção moral.
O discurso e a ideia são "batidos", eu sei. Mas parece que, de tempo em tempo, assim como nos escritos sagrados do Antigo Testamento, aparecem "profetas" para dizer o óbvio. O difícil mesmo é saber que, extenuantes esforços ainda não retiram o ópio dos espíritos obtusos, principalmente, da contemporaneidade. O que fazer então? Essa é a pergunta lançada por Tom e que ele também tenta responder de alguma forma, não se eximindo da responsabilidade individual pela coletividade.
Schopenhauer disse, a respeito da riqueza, que ela é como a água do mar: quanto mais você bebe, mais sede tem.


sexta-feira, 17 de julho de 2015

Perguntas e Respostas

Com Ludmila Saharovsky (poetisa, cronista,
dramaturga e autora de Tempo Submerso)

Ando pensando sobre os caminhos aos quais minhas escolhas têm me levado. 
Indiscutivelmente, é significativo o número de literatos que, de alguma forma, convivem comigo. E como é natural de minha personalidade, tendo sempre a perguntar o porquê disso, uma vez que não sou uma escritora. Perguntar é sempre bom. Aqui, uma pausa para contemplar pessoas que me inspiram. Viver rodeada de gente criativa ilumina os escombros que, às vezes, saltam à nossa frente. 

Volto à pergunta. Perguntar deveria ser um costume sincero. Nessas fórmulas de exames de consciência que, às vezes, recebemos por aí, deveria conter uma sessão só de perguntas. 
Perguntar é a mais sincera maneira de examinar-se. E as respostas? Quem pergunta precisa de respostas, não é? 

Não! Nem sempre. Muitas vezes, basta a pergunta. Em alguns casos, a pergunta é a melhor resposta que alguém pode receber. 

E é por isso que eu ando perguntando, dentro desse meu contexto, "qual é a parte que me cabe deste latifúndio?".

Ando cansada das respostas. Hoje, muita gente tem resposta pra tudo e está todo mundo certo sobre tudo. Essa enxurrada de respostas retira da vida o que ela nos oferece de mais sublime: o maravilhamento diante da descoberta. Quem descobre, nem sempre descobre por que alguém respondeu. Aliás, as maiores descobertas vieram de um processo entre a dúvida, o caminho e a luz no exato momento. Dificilmente, uma grande descoberta vem através de filtros de milhares de respostas. 

Seria muito bom se perguntássemos mais do que respondêssemos. A maior ignorância da vida não é ter muitas perguntas e sim muitas e imutáveis respostas. Estamos cheios de especialistas por aqui. E tenho que, diariamente, ouvir e tropeçar nas respostas de todos os "especialistas" espalhados por essa terra de Santa Cruz, e também por essa terra de ninguém que é a internet. 

Nessas horas, lamento o silêncio dos bons. Porque, enquanto os "especialistas" estão regurgitando suas milhares de respostas, os bons estão aceitando essas respostas sem fazer nenhuma pergunta. É como diz  uma história de tradição católica que, em 23 de dezembro de 428, um arcebispo de Constantinopla teria dito que a Virgem Maria dera à luz pela via auditiva. Tanto é que, em Recife, a Igreja Madre de Deus, dando vazão à lenda, colocou um painel com essa gravura na arcada direita do altar principal. Percebe-se o Espírito Santo caindo sobre a orelha esquerda da Virgem, fecundando-a. E é daí que vem, então, a expressão "emprenhar-se pelos ouvidos". E tem sido assim, 16 séculos passados, muita gente continua aceitando, sem questionamentos, algumas histórias que são contadas por aí.

Eu retomo minha pergunta e convido-te a fazer a mesma: "qual a parte que me cabe neste latifúndio?".

Aos que me inspiram, apenas uma pergunta: o que pode ser melhor do que gente que nos faz perguntar?

Giselle Lourenço

quinta-feira, 16 de julho de 2015

O que tem a dizer uma mulher de 36?


Aprendi que, quando se tem história e experiência, não importa a idade. Você não precisa chegar aos 60 para dizer que já viveu muita coisa e que conhece um pouco da vida e das pessoas.
Descobri que é melhor estar entre pessoas inteligentes do que entre pessoas ricas, e que as pessoas ricas só valerão a pena se também possuírem alguma riqueza de espírito.
Entendi que só dá pra falar em amor se você já viu a Cruz.
Compreendi que não importa ter acumulado muitas riquezas aos 30 anos. Importa ter encontrado no caminho quem te ame e ter visto o mundo e suas contradições para que eu perceba o real sentido da vida.
Percebi que, a máxima bíblica de que não se pode servir a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo é muito verdadeira, embora muitos sirvam os dois sob o pretexto de que com dinheiro, você serve melhor à Deus.
Enxerguei a importância de cuidar do próprio corpo, principalmente como alguém que acredita em Deus. Porque não há falsidade maior do que a sentença popular platônica de que você deve cuidar apenas da alma já que o corpo vai pra debaixo da terra. Afinal, se você quer viver com coerência, pensar nos seus é tentar não morrer antes da idade por uma infeliz artéria entupida por quilos de gordura ou por um ignorante tumor de origem "químio-alimentícia" (acho que esse termo fui eu que inventei). E se, depois de todo cuidado, ainda sim, a Irmã- Morte bater à sua porta, saber que não é vontade de Deus. E que, inclusive, nenhuma catástrofe de origem humana ou natural é vontade de Deus, porque, ao contrário do que dizem os xiitas à nossa volta, Deus deu-nos as potências de inteligência e de vontade para usarmos ao invés de transferir pra Ele toda a responsabilidade sobre nossas vidas.
Ando notando que ser mãe após os trinta tem lá seus encantos, embora o corpo padeça um pouco, e reitero aqui, a necessidade de cuidar do corpo.
Vejo que hipocrisia é coisa que não sai de moda e que, portanto, tenho que tomar cuidado com ela, já que é extremamente contagiosa e, às vezes, chega a ser chique. E falando em hipocrisia, não há nada que a defina melhor do que "aquilo que você quer impor aos outros em discursos mas que não está presente em sua vida em ato", como, por exemplo, ler a passagem do jovem rico que precisa vender tudo pra seguir Jesus no ambão da Missa enquanto a lei da vantagem e da competitividade precisa te levar a ser melhor e mais abastado.
E já que mencionei sobre ser chique, tenho descoberto que chique mesmo é ter sempre uma palavra simples para dizer tudo, ao invés de gastar uma Barsa inteira de preciosismos para um discurso vazio. E falando em simples, ando estabelecendo uma relação inversamente proporcional entre o que é simples e o que é simplório. Infelizmente, as mentes mais pedantes confundem as duas coisas.
Preconceito deveria ser coisa ultrapassada e fora de moda, mas está aqui, ainda existe; é mentira dizer que foi superado; me rodeia o tempo todo e eu tento não deixá-lo entrar. Espero conseguir.
Ler muito não significa adquirir sabedoria. E ler tudo pode, inclusive, te deixar burro. É preciso ler o suficiente. Quem lê tudo será um eterno repetidor de ideias alheias e nunca terá tempo para ficar ruminando os próprios pensamentos. Muitos eruditos são burros - já dizia Schopenhauer.
O casamento pode ser uma das melhores maneiras de se alcançar a liberdade. Isso sim é para os bons entendedores.
Em suma,  é bom fazer 36, pensar como alguém de 36 e ter um corpo de 36. Nunca pretendi ter 36 com corpo de 20 e cabeça de 15 e a gratidão é o que mais envolve minh'alma nesse momento, porque percebo esses 36 alcançados com graça, paz e inquietações saudáveis. Viva a vida e o momento presente!

Giselle Lourenço

sexta-feira, 8 de maio de 2015

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Neste sábado, além das temáticas já programadas no cartaz abaixo, falarei também sobre o que diria Cora Coralina aos Professores e repressores da educação no Brasil no contexto atual, considerando os últimos e lamentáveis acontecimentos em Curitiba no confronto entre PM e docentes. 

Abraços coralineanos,

Giselle Lourenço


Pra não pensar bobagem...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Chá com Cora no Bola de Meia

No próximo sábado, dia 7 de fevereiro de 2015, começamos um sonho de tempos. Um grupo de encontros para reflexões a partir da vida e obras de Cora Coralina, principalmente, para olhar com mais atenção para tudo que ela foi além de doceira e poetisa. O que fez Cora Coralina antes de seu renome como poetisa de Goiás? Quem foi, quem é essa mulher-monumento?
O grupo prevê encontros durante todo o primeiro semestre de 2015, sempre aos primeiros sábados de cada mês.
A responsável por esta página é professora de Literatura e estudiosa da vida e obras de Cora Coralina e mediará os encontros.

Cuidar da alma e jogar o corpo fora?

É muito lamentável o ponto onde chegamos...
Assistindo a um documentário sobre hábitos alimentares modernos e sua relação com as doenças, fiquei muito triste... Parece irreversível, pois parece que as pessoas realmente não se importam! Fiquei chocada ao saber de uma cozinheira da rede estadual que a única coisa que se cozinha na escola é o arroz. Como vem o restante? Enlatado! O feijão? Enlatado! A carne? Enlatada! Os "legumes"? Enlatados! Não temos dó de nossos filhos? Vocês acham que o culpado é o Estado? Nós temos o maior poder concentrado em nossas mãos: o poder de consumir! E somos nós que escolhemos o pior para o consumo, nós é que patrocinamos essa cultura de morte alimentícia!
Nas escolas, o buraco é mais embaixo: uma caixinha de suco é uma moeda bem mais valiosa que uma fruta, uma banana, por exemplo. E nenhuma criança quer sentir-se inferiorizada economicamente, tem vergonha de ter frutas no lanche. Existe uma hierarquia de valores, você vale o que tem desde a escola. Se você tem Doritos e suco de caixinha Del Valle, você é melhor que aquele que leva uma banana e uma maçã. Há casos de crianças que não tem alternativas, ou por conta da situação econômica mesmo ou porque tem prescrições médicas sobre alimentação. Resultado: trancam-se no banheiro para comer aquilo que precisam e não serem alvos de deboche dos colegas. Vivemos em um mundo onde as crianças aprendem que comer fruta é vergonhoso! E todo esse discurso de pais cuidadosos, olhar mais complacente para a infância e o desenvolvimento do ser? Tudo balela se não olharmos com cuidado para o que nossas crianças comem! Os professores de biologia vivem o eterno dilema: como podem explorar a questão dos alimentos em sala de aula e suas propriedades nutritivas se ao saírem da sala de aula, as crianças não podem adquirir esses alimentos na cantina da escola, porque na cantina só tem: salgadinho, Bis, Nutella, Rufflles... Que complacência e espiritualidade estamos tendo para olhar para a criança? Eu lhes respondo: NENHUMA! Os cientistas falam muito sobre a obesidade infantil e que de 5 crianças obesas, 4 continuarão obesos quando adultos. Eu nem me detenho na questão da obesidade... O peso pra mim, fica em segundo plano quando penso em outras implicações de saúde corporal e até bucal. Porque há aqueles que não têm sobrepeso mas que, ainda sim, apresentam problemas alarmantes de saúde, principalmente, nas dosagens químicas do sangue, como colesterol, triglicerídeos e glicose. 
O que acontece conosco? Não fazemos mais refeições juntos. Não cozinhamos a própria comida... Tem que ser tudo fast... Porque temos que ter comida rápida. Mas comer é um ato de amor, de socialização... Não temos que comer rápido... Ah, sim, as mães não têm tempo de cozinhar porque estão ocupadas em seus trabalhos... E aí você confia a saúde de seu filho em um pacote de Dorytos? Parabéns! Ter um filho não é só jogar ele pra fora... O cuidado na primeira infância é apenas o começo... Eu não sou a melhor mãe, não sou o exemplo impecável e nada disso. Mas tento melhorar tudo que posso para o bem daquele ser com quem me comprometi pelo resto da vida a partir do momento em que permiti que ela habitasse minhas entranhas... E não vou parar o serviço no meio do caminho... Por aqui, nem ligo do que falam sobre meu modo de maternar! Sou chata mesmo! Não deixo comer mesmo! Não tenho em casa mesmo! Estimulo o melhor que posso no quesito alimentação. Às vezes, as pessoas não entendem e se escandalizam... Mas esse é um cuidado que não é compreendido justamente porque invertemos os valores. Você é uma mãe legal se você deixa seu filho comer de tudo sem frescura; se você regula a alimentação pensando no melhor para ele, você é fresca, neurótica e tudo o mais que te rotulam. Não, queridos... Nisso, eu sei quem sou e sei cuidar da minha família! Torço para que os outros enxerguem a inversão em que vivemos e que quando enxergarem, não seja tarde...
Convido vocês, mamães, papais, filhos, a cozinharem mais vezes em casa, fazerem pratos caseiros juntos. E vejam que nem falo de cardápios naturebas! Falo apenas de uma alimentação consciente... Nada de tudo pronto ou enlatado... Cozinhar é uma arte, talvez, a mais bela de todas, porque é a que dá sustento para as outras artes. Desnutrido, nenhum artista será criativo. Tenho amigos que adoram esses lanches dessas franquias que nem gosto de escrever o nome.. desses que vêm com hambúrguer, batata frita, brinquedo, refrigerante...Com respeito aos que adoram, manifesto minha verdadeira repulsa por tudo isso! Aqui não tem essa de levar para comer e ganhar brinquedinho... Não acho bonito, desculpem... Da mesma forma que alguns pais estão preocupados com a exposição infantil à publicidade, devemos nos preocupar com os traficantes de fast foods! Um verdadeiro vício pavoroso de nossos tempos! Vamos reunir as famílias em volta da mesa de casa! Vamos procurar alternativas que nos proporcionam uma melhor qualidade daquilo que ingerimos. Você é o que você come! Não queira ser apenas dois hambúrgueres, alface, queijo e molho especial! Seja um viçoso doce de figo feito no tacho, um empadão de frango caipira com folhas frescas e temperos naturais! Vamos enaltecer o processo alimentar selecionando com mais inteligência nosso alimento. E não me venha com papo de alimento pra alma aos domingos se você não cuida do corpo que te foi dado!
Cuidar da alma e jogar o corpo fora? Ora, até Cristo quis o corpo dele de volta... 

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Os cinco tipos de risos

Que surpresas e luzes podem nos revelar a sabedoria monástica! 

Hoje, li por acaso um artigo que causou-me tanta admiração (um assunto que jamais imaginei que pudesse ser discorrido ou refletido) e ao final do texto, descobri que o autor era nada menos que Dom Bernardo Bonowitz, o Abade do Mosteiro Nossa Senhora do Novo Mundo no Paraná, um lugar que visitei duas vezes e que até hoje me traz maravilhosas lembranças e onde pude conhecer o próprio Dom Bernardo, quem me recebeu com alegria e simplicidade...

Diz a regra de São Bento que o décimo grau de humildade consiste em que o monge não seja pronto e fácil ao riso. Contudo, Dom Bernardo faz questão de explicar que a regra não exclui a realidade sorridente de um monge. Então, numa escala de um a cinco, Dom Bernardo explica quais seriam os tipos de risos, do mais indesejado até o riso ideal.

1- O riso sardônico: seria um tipo de riso de quem não se encanta por mais nada na vida e a enxerga como uma grande piada. Ri do belo, do nobre, do santo... É como se tivesse sofrido uma decepção em que não pôde suportar e não consegue mais dar crédito a nenhuma realidade, por mais humana ou caridosa que seja.

2- O riso zombeteiro: é o riso debochado. Quando alguém está a fazer o seu melhor e, humanamente, pode não atender os critérios mais refinados e recebe risos e zombaria em troca como se tivesse desempenhando um ridículo papel. Esse tipo de riso pode abrir feridas incuráveis na alma de seu alvo.

3- O riso escapista: é o riso de quem não lida bem com o peso e responsabilidade da vida adulta, de quem considera deveras séria a vida com responsabilidades, sente um fardo ao executar tarefas que lhe exigem o pensamento e a concentração e então, tem uma necessidade constante de se distrair. Dom Abade dá vários exemplos de distração, muito comuns na vida moderna. Um exemplo que eu mesma ouso citar e do qual ele não fala seria a necessidade que as pessoas têm hoje de rir com distrações como "reality shows" ou "stand ups", por exemplo.

4- O riso de comunhão: é o riso de quem partilha o mesmo ideal de vida e que saboreiam uma experiência comum. E para isso ele dá o exemplo de um casal apaixonado, que mesmo sem um motivo específico, pontual, riem apenas por estarem na presença um do outro, como se fosse um estado interior de sorriso que externiza no movimento muscular do sorriso. Do quarto em diante, já estamos no terreno do riso ideal.

5- O riso escatológico: o riso que riremos no fim dos tempos. E ele usa a realidade do "já" e do "ainda não" para ilustrar que, esperar o fim dos tempos não significa esperar cessar a vida terrena para desfrutar de um gozo celestial, pois esse riso ainda não irrompido em exultação eterna já começou desde que o "Logos" - o Filho de Deus quis rir conosco aqui na terra, e que irrompe não só na liturgia mas também na oração ou no simples afeto humano. 

Dom Abade termina num colóquio com São Bento, com a certeza de que o Santo, certamente, dera boas risadas com o assunto do texto. Ora, Dom Bernardo, se ele deu risada, foi a risada escatológica, que já comporta a risada de comunhão.
Foi bom demais ler essas suas palavras. Entender que há humildade e sabedoria até para entregar-se ao riso só podia mesmo ser coisa de monge. E coisa de monge é sempre coisa boa! Deus guarde a Trapa e os monges alegres que por lá conheci!

Giselle Lourenço