quinta-feira, 31 de maio de 2012

Moacyr Pinto lança o livro "Tecendo o Amanhã"


Moacyr Pinto fala de seu livro "Tecendo o Amanhã" na Ciranda de Poesia na Cia Cultural Bola de Meia

Bom dia, pessoal!

Ontem (30 de maio), o escritor, sociólogo, professor e ex-secretário de educação de São José dos Campos, Moacyr Pinto esteve na Ciranda de Poesia para falar de sua mais nova obra que está sendo lançada: Tecendo o Amanhã.
Trata-se de um romance, porém muito próximo da realidade; a história tem como pano de fundo uma comunidade católica progressista que unida por objetivos comuns de liberdade, autonomia e humanidade empreende movimentos pela busca desses ideais.
A obra é inspirada em tempo e espaço na região do ABC paulista da época das primeiras fábricas de grande produção e do surgimento das primeiras forças sindicais não só dessa região como do país.
Toda a dialética desenvolvida pelo autor é fruto de sua própria militância. Professor Moacyr foi, desde muito cedo, trabalhador operário, sempre engajado em movimentos de liderança comunitária, e mesmo após a conquista de uma nova profissão como professor (fundamental, ensino médio e acadêmico), nunca deixou de estar inserido no contexto de forças intelectuais e comunitárias por mudanças e desenvolvimento da população pobre do país. Como ele mesmo diz, trata-se de uma obra literária a partir do chão. Por isso é tão próxima da realidade. Alguns elementos da obra são literalmente históricos, outros mais romanceados, mas o que o autor ressalta é que é um resultado de sua formação a partir da prática, a partir do engajamento e não de teorias construídas a partir de uma formação individualista.
Com relação à contribuição da Ciranda de Poesia para a cidade de São José dos Campos, o autor salienta que é duplamente formadora, uma vez que, acontece num ambiente amigável e é isso que dá margem para que se desenvolva o “fazer coletivo”, e que também possui uma contribuição fundamental para o desenvolvimento e formação mais subjetiva do leitor e do cidadão joseense.
Obrigada, Professor Moacyr, pela colaboração e disponibilidade.
Após a entrevista, gentilmente cedida. (Professor Moacyr e Giselle Lourenço).


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Homenagem a Portugal

Hoje, quero agradecer aos leitores de Portugal. É o país com a maior estatística de leitura deste blogue. Em uma singela homenagem a vocês, segue um lindo poema de uma autora que assina com o pseudônimo "Little Hut". Mil abraços aos portugueses!

"MINHA CIDADE É LISBOA"



Minha cidade é Lisboa.
Sou orgulhosa "alfacinha"
e lisboeta assumida.
Tenho orgulho em minha terra.
Minha cidade tão querida.

Subimos até lá acima,
ao alto do torreão
do Castelo de S. Jorge;
está Lisboa ali à mão.
Despida de preconceitos,
vestida só com o calor
do sol, do pai Portugal;
junto ao Tejo, seu amor.

É Lisboa feita em duas:
duas juntas numa só,
uma velha e outra nova.
Do alto do seu Castelo,
é fácil tirar a prova.

Os barcos subindo o Tejo.
A Sé, edifício velho.
Novo, o Shopping Amoreiras.
E este sol divinal,
torna as casas mais faceiras.

Do Miradouro da Graça,
vejo ruas estreitinhas;
e a Lisboa vélhinha
com edifícios de traça,
acho que ... Manuelina?

Eu não sou versada em traças;
já são coisas p´ra doutores.
Só quero descrever o orgulho
que tenho em ser portuguesa.
Lisboa dos meus amores!

Praça Marquês de Pombal,
Alameda Afonso Henriques,
a Basílica da Estrela,
mais as novas Avenidas
que comportam casas chiques.

Campo Grande e seu jardim
bonito, para lazer.
Lago e barcos p´ra remar.
Aqui chamamos 'gaivotas'
aos barcos de pedalar.

Adiante a Estufa Fria,
boa em tempo de calor,
p´ra visitar e aprender.
As mais variadas plantas
é sempre bom conhecer.

Na ponte, nos debruçamos,
da "25 de Abril".
Olhamos até à foz
do rio Tejo e abarcamos
toda a Costa do Estoril.

Mais perto, ali a dois passos,
é a Torre de Belém;
assinalando a partida
dos portugueses de antanho
à descoberta do "além".

"Jerónimos" rivalizam
com o Centro Cultural.
Enquadrados na paisagem,
mosteiro e edifício novo
não parecem nada mal.

Esqueci "Parque de Monsanto",
considerado o pulmão
da cidade de Lisboa.
Está menos vandalizado,
o que já é coisa boa.

Mas ... tudo tem um senão!

Quando Deus, p´ra distrair,
fez o mundo, disse Pedro:
-Oh! Deus! Mas há que convir
que tu fizeste borrada!
Tens países com excesso
de água, neve, frio, calor
e aí não falta nada?

Deixa, Pedro! Tu vais ver
o povo que eu lá vou pôr!

Na certa era Portugal!
É um jardim multicor.
Tudo bem equilibrado.
Temos um pouco de tudo
mas, "Zé Povinho" é danado!

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11/2000
laurabmartins@netvisao.pt

terça-feira, 22 de maio de 2012

A Cigarra e a Formiga

Desde Esopo, a fábula da cigarra e da formiga vem sendo contada e recontada, nas mais variadas versões.
Em La Fontaine, a fábula ganha uma grande difusão no Ocidente, e suas versões variam de acordo com o período histórico e com aquilo que o escritor quer denunciar ou apontar.
Na versão de Manoel de Barros, por exemplo, a formiga termina fazendo uma autocrítica sobre sua preocupação em amontoar coisas e não gastar tempo com outras coisas importantes também.
Hoje, quero compartilhar a minha versão de A Cigarra e a Formiga. Provavelmente, você perceberá as tendências de minha versão, e acho que não é para crianças...


A cigarra que ora cantara
Agora tem que rebolar
Chupa cana e assobia
Sapateia, late e mia
E ainda tem que batucar

Com isso o inverno chegou
E apesar de se esforçar
Foi posta no lado escuro
Do outro lado do muro
E tanta conta pra pagar

De novo a formiga malhou
E não precisou poupar
Tinha herança e grande umbigo
Nem quis se empenhar nos livros
E o mundo quis ganhar

E tem sido sempre assim
A cigarra a melhorar
A formiga herda a terra
Não se importa com a guerra
E não sabe o que é amar


Giselle Lourenço

sábado, 19 de maio de 2012

O que uma azeitona tem a ver com a Filosofia?


Você sabe qual a origem da palavra “conserva” ou “conservo”?
Significa, literalmente – com servo.
E isso, graças ao filósofo Hegel (filósofo moderno alemão) que construiu um pensamento de dialética em que um sujeito só se afirma em sua relação com o outro e que, isoladamente, nada representa.
Difícil? Nem tanto... Hegel fala da sobreposição das coisas, e em seu célebre caso “Senhor e Servo” ele nos introduz à sua dialética, de onde podemos entender então, a origem da palavra em questão. Vejamos a metáfora hegeliana a seguir:

Dialética do senhor e do escravo
Dois homens se enfrentam numa luta de reconhecimento. O primeiro arrisca a sua vida em prol do reconhecimento, o outro, por medo de perder a sua vida, se submete. Instaura-se assim uma relação entre senhor e servo. Senhor é senhor pelo seu servo e o servo é servo pelo seu senhor. Nenhum deles é o que é sem o outro. Este é o reconhecimento. O vencedor (o senhor) não mata seu adversário vencido (o servo), mas o conserva, pois é pelo servo que o senhor é reconhecido como senhor. Conservar, literalmente, significa com-servo, isto é, produzir um servo, que é resultado imediato da luta pelo reconhecimento.[1]

É claro que isso é uma metáfora e que servo e senhor aqui podem significar muitas coisas. O importante é fazer a relação da etimologia da palavra que usamos atualmente. Hegel observou esta dialética quando notou que a derrota prussiana foi um “mal necessário” ao espírito alemão, que serviu de alavanca para que, naquela situação histórica, a Alemanha pudesse ressurgir das cinzas.[2]
Fazendo então uma atualização semântica, podemos estabelecer uma relação de que tudo aquilo que mantemos conosco de maneira submissa equivale ao que irá nos servir. Mantemos uma relação de senhor com algo que dominamos e que prevemos com relação a como o objeto irá nos servir, por quanto tempo e de que maneira. Continuando o desdobramento filosófico do tema, é bom saber que há uma lógica interna da dialética hegeliana que se trata de uma marcha negativa da dialética. A metáfora de Hegel continua sua explicação dizendo que pelo fato de o servo ficar alheio aos produtos que produz para o seu senhor, acaba tendo que superar suas provações, tem que lutar e usar de criatividade para viver sem aquilo que produz para o senhor, e isso o transforma em um indivíduo que ganha mais liberdade que o seu próprio senhor porque produz e o senhor, por sua vez, apenas consome. A incapacidade senhoril de produzir e de criar, levando o senhor a ficar refém da produção de seu servo é chamada por Hegel de desvanecer contido, e a mudança de perspectiva de liberdade criada pelo servo é por ele chamada de desejo refreado.
Assim, quando você tem uma lata de azeitona em conserva em sua geladeira, a relação de conserva é cíclica, seguindo os moldes dialéticos hegelianos. Por quê? Porque ao mesmo tempo em que a azeitona é a senhora da relação entre ela e o líquido no qual está imersa, ela também é a portadora de um desvanecer contido, uma vez que, depende daquele líquido para permanecer em sua utilidade no fim para o qual foi posta em conserva.



[1] HEGEL, G. W. F. A. A fenomenologia do espírito. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os pensadores)
[2] Sobre a guerra franco-prussiana que derrotou a Prússia impondo a necessidade de uma renovação cultural e espiritual da nação alemã.