segunda-feira, 27 de julho de 2015

Apaixonei-me


No meio do caminho, tinha uma vírgula. 
Ah, a vírgula! Foi assim que apaixonei-me...
Reticente... Aquele sujeito simples, mas ao mesmo tempo composto, e era cheio de aposto. Deixou-me em interrogação.
Mas uma exclamação era imperativa: ele sabia usar a vírgula!
No mundo, quem sabe usar a vírgula? Quase sempre, sujeito de orações independentes.
Não venham com prefixos ou sufixos sobre minha pessoa! Eu, realmente, acho singular quem a sabe empregar! 
Entrei em colisão e já queria uma oração declarativa.
Ele, um pronome bem pessoal. Eu, uma figura de linguagem de pensamento...
Pensei, pontuei... Vocativo: Eureka, é ele! Ele sabe usar a vírgula!


Giselle Lourenço
Eis aqui uma breve história sobre como o senhor meu marido conquistou meu coração pensante...

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Riqueza não traz felicidade - para além do jargão

Para além do jargão de que "riqueza não traz felicidade", nada como ver e ouvir uma experiência bem vivida. Assisti, por esses tempos, ao documentário "I am", do premiado diretor hollywoodiano Tom Shadyac, cuja história retratada é a dele própria.
No filme, Tom conta-nos como começou a perceber seu infinito vazio interior após um acidente que o deixou de cama e isolado das pessoas por meses. Não obstante seu patrimônio sempre em ascensão desde o início da carreira, a cada conquista, a cada luxo satisfeito facilmente pela fortuna que fez, a sequência de vontades e ambições continuaram infindáveis até que, obrigado a parar pela questão de saúde, pôde, finalmente, refletir sobre seus caminhos e a que plano estariam levando suas escolhas, e de repente, o que vemos no documentário é alguém que, após ter dirigido celebridades como Jim Carrey e Robbie Williams, encontra-se com grandes nomes mundiais de uma outra vertente (escritores, poetas, líderes espirituais) para a busca de respostas sobre o que é efêmero na vida e que, no entanto, as pessoas insistem em perseguir como que por convenção moral.
O discurso e a ideia são "batidos", eu sei. Mas parece que, de tempo em tempo, assim como nos escritos sagrados do Antigo Testamento, aparecem "profetas" para dizer o óbvio. O difícil mesmo é saber que, extenuantes esforços ainda não retiram o ópio dos espíritos obtusos, principalmente, da contemporaneidade. O que fazer então? Essa é a pergunta lançada por Tom e que ele também tenta responder de alguma forma, não se eximindo da responsabilidade individual pela coletividade.
Schopenhauer disse, a respeito da riqueza, que ela é como a água do mar: quanto mais você bebe, mais sede tem.


sexta-feira, 17 de julho de 2015

Perguntas e Respostas

Com Ludmila Saharovsky (poetisa, cronista,
dramaturga e autora de Tempo Submerso)

Ando pensando sobre os caminhos aos quais minhas escolhas têm me levado. 
Indiscutivelmente, é significativo o número de literatos que, de alguma forma, convivem comigo. E como é natural de minha personalidade, tendo sempre a perguntar o porquê disso, uma vez que não sou uma escritora. Perguntar é sempre bom. Aqui, uma pausa para contemplar pessoas que me inspiram. Viver rodeada de gente criativa ilumina os escombros que, às vezes, saltam à nossa frente. 

Volto à pergunta. Perguntar deveria ser um costume sincero. Nessas fórmulas de exames de consciência que, às vezes, recebemos por aí, deveria conter uma sessão só de perguntas. 
Perguntar é a mais sincera maneira de examinar-se. E as respostas? Quem pergunta precisa de respostas, não é? 

Não! Nem sempre. Muitas vezes, basta a pergunta. Em alguns casos, a pergunta é a melhor resposta que alguém pode receber. 

E é por isso que eu ando perguntando, dentro desse meu contexto, "qual é a parte que me cabe deste latifúndio?".

Ando cansada das respostas. Hoje, muita gente tem resposta pra tudo e está todo mundo certo sobre tudo. Essa enxurrada de respostas retira da vida o que ela nos oferece de mais sublime: o maravilhamento diante da descoberta. Quem descobre, nem sempre descobre por que alguém respondeu. Aliás, as maiores descobertas vieram de um processo entre a dúvida, o caminho e a luz no exato momento. Dificilmente, uma grande descoberta vem através de filtros de milhares de respostas. 

Seria muito bom se perguntássemos mais do que respondêssemos. A maior ignorância da vida não é ter muitas perguntas e sim muitas e imutáveis respostas. Estamos cheios de especialistas por aqui. E tenho que, diariamente, ouvir e tropeçar nas respostas de todos os "especialistas" espalhados por essa terra de Santa Cruz, e também por essa terra de ninguém que é a internet. 

Nessas horas, lamento o silêncio dos bons. Porque, enquanto os "especialistas" estão regurgitando suas milhares de respostas, os bons estão aceitando essas respostas sem fazer nenhuma pergunta. É como diz  uma história de tradição católica que, em 23 de dezembro de 428, um arcebispo de Constantinopla teria dito que a Virgem Maria dera à luz pela via auditiva. Tanto é que, em Recife, a Igreja Madre de Deus, dando vazão à lenda, colocou um painel com essa gravura na arcada direita do altar principal. Percebe-se o Espírito Santo caindo sobre a orelha esquerda da Virgem, fecundando-a. E é daí que vem, então, a expressão "emprenhar-se pelos ouvidos". E tem sido assim, 16 séculos passados, muita gente continua aceitando, sem questionamentos, algumas histórias que são contadas por aí.

Eu retomo minha pergunta e convido-te a fazer a mesma: "qual a parte que me cabe neste latifúndio?".

Aos que me inspiram, apenas uma pergunta: o que pode ser melhor do que gente que nos faz perguntar?

Giselle Lourenço

quinta-feira, 16 de julho de 2015

O que tem a dizer uma mulher de 36?


Aprendi que, quando se tem história e experiência, não importa a idade. Você não precisa chegar aos 60 para dizer que já viveu muita coisa e que conhece um pouco da vida e das pessoas.
Descobri que é melhor estar entre pessoas inteligentes do que entre pessoas ricas, e que as pessoas ricas só valerão a pena se também possuírem alguma riqueza de espírito.
Entendi que só dá pra falar em amor se você já viu a Cruz.
Compreendi que não importa ter acumulado muitas riquezas aos 30 anos. Importa ter encontrado no caminho quem te ame e ter visto o mundo e suas contradições para que eu perceba o real sentido da vida.
Percebi que, a máxima bíblica de que não se pode servir a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo é muito verdadeira, embora muitos sirvam os dois sob o pretexto de que com dinheiro, você serve melhor à Deus.
Enxerguei a importância de cuidar do próprio corpo, principalmente como alguém que acredita em Deus. Porque não há falsidade maior do que a sentença popular platônica de que você deve cuidar apenas da alma já que o corpo vai pra debaixo da terra. Afinal, se você quer viver com coerência, pensar nos seus é tentar não morrer antes da idade por uma infeliz artéria entupida por quilos de gordura ou por um ignorante tumor de origem "químio-alimentícia" (acho que esse termo fui eu que inventei). E se, depois de todo cuidado, ainda sim, a Irmã- Morte bater à sua porta, saber que não é vontade de Deus. E que, inclusive, nenhuma catástrofe de origem humana ou natural é vontade de Deus, porque, ao contrário do que dizem os xiitas à nossa volta, Deus deu-nos as potências de inteligência e de vontade para usarmos ao invés de transferir pra Ele toda a responsabilidade sobre nossas vidas.
Ando notando que ser mãe após os trinta tem lá seus encantos, embora o corpo padeça um pouco, e reitero aqui, a necessidade de cuidar do corpo.
Vejo que hipocrisia é coisa que não sai de moda e que, portanto, tenho que tomar cuidado com ela, já que é extremamente contagiosa e, às vezes, chega a ser chique. E falando em hipocrisia, não há nada que a defina melhor do que "aquilo que você quer impor aos outros em discursos mas que não está presente em sua vida em ato", como, por exemplo, ler a passagem do jovem rico que precisa vender tudo pra seguir Jesus no ambão da Missa enquanto a lei da vantagem e da competitividade precisa te levar a ser melhor e mais abastado.
E já que mencionei sobre ser chique, tenho descoberto que chique mesmo é ter sempre uma palavra simples para dizer tudo, ao invés de gastar uma Barsa inteira de preciosismos para um discurso vazio. E falando em simples, ando estabelecendo uma relação inversamente proporcional entre o que é simples e o que é simplório. Infelizmente, as mentes mais pedantes confundem as duas coisas.
Preconceito deveria ser coisa ultrapassada e fora de moda, mas está aqui, ainda existe; é mentira dizer que foi superado; me rodeia o tempo todo e eu tento não deixá-lo entrar. Espero conseguir.
Ler muito não significa adquirir sabedoria. E ler tudo pode, inclusive, te deixar burro. É preciso ler o suficiente. Quem lê tudo será um eterno repetidor de ideias alheias e nunca terá tempo para ficar ruminando os próprios pensamentos. Muitos eruditos são burros - já dizia Schopenhauer.
O casamento pode ser uma das melhores maneiras de se alcançar a liberdade. Isso sim é para os bons entendedores.
Em suma,  é bom fazer 36, pensar como alguém de 36 e ter um corpo de 36. Nunca pretendi ter 36 com corpo de 20 e cabeça de 15 e a gratidão é o que mais envolve minh'alma nesse momento, porque percebo esses 36 alcançados com graça, paz e inquietações saudáveis. Viva a vida e o momento presente!

Giselle Lourenço