terça-feira, 24 de maio de 2011

Música e Linguagem - Cantor, compositor e poeta! Alessandro Zamah

Cantor e compositor, Alessandro Zamah é, hoje, um dos expoentes da MPB no Vale do Paraíba. Estou longe de ser crítica de música, mas posso falar de suas letras; suas composições são verdadeiras obras-primas. Mas ainda, dentro do universo musical, ouso dizer que seu trabalho seria digno de tomar proporções além da regionalidade.
Contudo, deterei-me nas considerações lingüísticas de suas composições – objetivo dessa matéria.
Li, certa vez, que pelo fato de poemas e letras musicais pertencerem a universos distintos, quem faz um não sabe fazer o outro. Essa afirmação pode até servir para a maioria, mas não me parece ser o caso do cantor e compositor Zamah. Quem compõe a letra musical precisa considerar aspectos que o poema ignora como ascendência ou descendência de melodia, pausas, etc. e por esse motivo, às vezes, a letra pode sofrer algum empobrecimento poético. Já o poema é autossuficiente, não precisa recorrer a nada. Mas nas letras de Zamah, me parece que o encontro de poema e letra foi glorioso.
Ainda preciso considerar a ausência de “virundum”[i] – que apesar de ser uma interessante brincadeira lingüística, faz com que sua ausência nos permita ressaltar a integridade sonora de voz e instrumentos que são ouvidos. No caso de Zamah, é possível compreender totalmente cada palavra cantada, entoada, declamada.
E é considerando esse raro talento em compor, ao mesmo tempo, músicas e poesias, que resolvi destacar o processo de criação do compositor. O cantor e compositor Zamah, gentilmente, respondeu a algumas perguntas para o blog do Bacia Literária e você poderá conferi-las agora:

Bacia Literária – Zamah, suas canções parecem ter uma integração natural entre o que está sendo dito e o modo de dizer. Todo o enunciado parece já vir com a melodia e toda a melodia parece já vir com a letra. Como se dá seu processo de criação? Com o que você preocupa-se num primeiro momento? Música ou poesia? Há a possibilidade de os dois fluírem, realmente juntos?

Zamah – No meu caso dificilmente as duas coisas podem fluir juntas, a melodia vem sempre em primeiro lugar como acontece com a maioria dos compositores, e quando ela surge já dá pra sentir o que a música quer.

Bacia Literária – Há algum ícone na música ou na poesia que inspirou suas composições? Algum “mestre” em especial?

Zamah – Seria uma injustiça da minha parte citar um nome. Minhas influências são inúmeras tanto na poesia quanto na música de norte a sul do Brasil. Minha maneira de compôr segue a estrutura de três movimentos, muito presente no cancioneiro popular, tipico do chorinho.

Bacia Literária – “Tingindo a sala de som”, “formei uma imagem na emoção”, “o silêncio agora entoa”... Essas figuras e metáforas que você usa, de onde surgem? O que colabora com sua criatividade?
Zamah –
Tingindo a sala de som fala do resultado do processo da composição; já em relação à letra “Pintou Saudade”, “formar uma imagem” traz a lembrança viva da pessoa amada no imaginário do eu lírico criativo; estas metáforas surgem de inspirações motivadas por momentos, pessoas e lugares...
Agora Sou fala de término de relacionamento e inicio de uma nova fase da vida, de ressignificações...

Bacia Literária – Suas letras traduzem uma identidade. Retratam, na maioria das vezes, exaltação da natureza, simplicidade de vida e evolução de espírito. Essa identidade é a mesma do compositor? Há uma simbiose entre quem está retratado nas letras e quem é Zamah?

Zamah – Sim, como não haveria de ser? Está no coração, na alma,e que reflete diretamente nas atitudes. Acredito o que artista num modo geral tem uma responsabilidade ainda maior em estar em verdade com o que mostra em sua arte.
Bacia Literária – A música “Coração de Plástico” é quase um grito, um a nos coloca numa pelo à sociedade atual. Conte-nos sobre sua motivação ao compor essa belíssima letra.
Zamah – "Coração de plástico" se enquadra bem ao momento atual de nossa sociedade que vive nos grandes centros urbanos. Cada um por si, o "ter maior do que ser". A frieza, o medo tomou conta e nos coloca numa condição ainda maior de isolamento.

         Zamah
(Cantor e Compositor)
Abaixo, você poderá ouvir uma de suas belas canções: "Musicando".  Seu CD, recentemente lançado, intitulado “Caçador de Cachoeira”, encontra-se à venda em seu site www.zamah.com.br.




[i] Virundum é uma espécie de traição do sentido da audição e teve sua inauguração com o Hino Nacional, onde “Ouviram do Ipiranga” tornou-se “virundum”. Outros exemplos de virundum: “Eu perguntava do you wanna dance?” tornou-se “Eu perguntava tudo em holandês” / “Tocando B.B.King sem parar” tornou-se “trocando de biquíni sem parar”, entre muitos outros exemplos conhecidos popularmente.

sábado, 7 de maio de 2011



Na onde? 






Já é sabido entre alguns dos leitores que vivo na cidade de São José dos Campos, um centro nervoso de tecnologia e um pólo industrial. Tanta tecnologia assim deveria proporcionar uma evolução em todos os âmbitos da vida, mas não é o que parece ocorrer. Pelo menos não na questão da linguagem.
Andam surgindo expressões por aí que até pouco tempo atrás, não me recordo de as ouvir na região. E antes que algum lingüista alucinado resolva proclamar a validade lingüística de algumas delas, é melhor fazer alguma coisa a respeito.
Um exemplo da colossal aberração tem sido a expressão “na onde”. Ouço pessoas dizendo: “Na onde você vai?” “Na onde você comprou esse sapato?”
Dentro dos limites geográficos em que permaneço no decorrer de meus dias, convivo com algumas classes diferentes. Classes, aqui, pode-se entender como classes comportamentais, pois nem sempre a classe social é que dita o perfil ou interesses de uma pessoa. Convivo com classes mais intelectuais, com classes mais alienadas, com grupos massivos que se permitem levar ao sabor dos ventos, e não noto a expressão em todos esses grupos, mas o fato é que em algumas camadas ou em alguns grupos, esse tipo de expressão tem se tornado muito corriqueiro.
Recorro aos amigos, possíveis leitores desse blog, que sejam especialistas em língua, em gramática, pesquisadores dos fenômenos lingüísticos, para que dissipem a minha dúvida se trata-se de algo extremamente local. Não sei se essa expressão tem sido usada fora dos muros do Vale do Paraíba. Alguém aí consegue dizer?
 Bom, mas aos desavisados de plantão, a correção que eu gostaria de fazer era essa:

Não se diz: “na onde”.  – Isso, simplesmente, não existe!
Ou se diz “onde”, ou se diz “aonde”. Ambos são advérbios de lugar e são empregados da seguinte forma: Onde, para designar um local permanente (Ex. Onde você comprou esse sapato?). Aonde, para designar uma condição de movimento (Ex. Aonde você vai?), ou seja, para onde você vai.

Vale lembrar que “na” = em + a, então, se quero usar de qualquer jeito a preposição na minha construção, basta dizer: Em que lugar você vai?

Eu estou num estado primário de revolta presenciando o advento de uma expressão tão estapafúrdia como esta e a tenho escutado de pessoas que eu nem esperava uma lástima dessas.

Pra finalizar, tenho vontade de gritar, minha gente: “Na onde” não existe! Por favor!
Tenho uma teoria de como essa expressão possa ter surgido e me arriscaria a esboçá-la aqui, mas talvez seja texto para um próximo momento. Vamos aguardar a segunda parte, até porque, estou curiosa para ler comentários a esse respeito antes.

Giselle