quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O Sebastianismo no Brasil

Essa semana, a OAB iniciou um seminário em São Paulo para debater as saídas para a crise. O lema que os magistrados e estudiosos do assunto adotaram vem ao encontro daquilo que eu sempre pretendi ser o mais digno: a sociedade civil pode e deve fazer algo. Esta é a proposta do seminário. Acompanhemos e façamos algo.
Há quem critique adeptos do sebastianismo, como o foi o próprio Fernando Pessoa em sua altíssima erudição. Esperar que um "Messias" político e soberano venha instaurar o reino da justiça e de paz em minha pátria à medida em que eu desenvolvo uma dependência dessa esperança e nada faça para contribuir com a mudança dos rumos da história política e social, de corrupção, pobreza, desigualdades, violência e tantos outros males que eu julgo ser relapso de quem está no poder é, no mínimo, pouca ética cível de minha parte. Tudo é culpa do governo, do Estado, e o governo que mude e que resolva aquilo que eu quero que seja resolvido! E se não resolve, que venha D. Sebastião, das cinzas reluzentes de sua áurea guerreira defender-me e destronar o intrépido reinante! E Sebastião, à essa altura, pode adquirir vários nomes, desses que são postos em bandeiras de partidos em épocas de campanhas políticas. 
Uma coisa é certa: nenhum desses possui o poder salvador de Sebastião, que até hoje está sendo esperado no purgatório lusitano. Estaremos nós, também, esperando pelo advento do justo soberano?
É difícil escolher um político. Quando me sinto mais irmanada com a terra que me acolheu, sinto pena de mim e de minha gente, num histórico político tão precário, com ausência de estadistas, com políticas que maquinam uma lógica de "o que fazer para manter-se no poder", e só. Avanços ou retrocessos nacionais são relativos, na medida em que me mantém com o cedro nas mãos. E pensar que o próximo imperador vai construir a utopia de Thomas More e varrer a corrupção para o incinerador é, no mínimo, uma debilidade mental.
Infelizmente, política mudou de concepção. Hoje, já se ensina que escrever "político corrupto" é pleonasmo dos mais antiestéticos. 
Ademais, lembremos uma passagem histórica muito significativa: quando a Companhia de Jesus foi expulsa do Brasil e de Portugal, o que estavam os jesuítas a fazer? Praticando seus deveres civis. Estavam denunciando a opressão do poder senhorial para com escravos, índios e camponeses. Hoje, vivemos em tempos mais amenos quanto a isso. Poderemos agir sem sermos expulsos ou exilados, embora alguns ainda queiram a brados retumbantes a Ditadura Militar... Mas uma coisa ainda é atual: o pleonasmo político. Quer ver? Já que falamos em jesuítas, vejam o que escreveu Padre Antônio Vieira há séculos atrás de nós:
"Não são só os ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para
lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem
os reis encomendam os exércitos, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados; estes furtam e enforcam." 

Viu? É por isso que, no ritmo da OAB, temos que fazer algo e pensar em saídas para a crise ao invés de olhar pro céu e esperar a vinda de D. Sebastião ou seja lá de quem for...

Giselle Lourenço


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