terça-feira, 26 de outubro de 2010

Academia Joseense de Letras – Os Novos Imortais


Academia Joseense de Letras – Os Novos Imortais


Nesta segunda, 25 de outubro, São José dos Campos contou com um marco histórico para a cultura da cidade: a reativação da Academia Joseense de Letras.
Desativada há mais de duas décadas, a Academia agora revive e demonstra um grande movimento cultural no âmbito da literatura em nossa região.
Dentre os membros, um dos idealizadores da Academia e membro da primeira formação, o advogado e escritor Mário Ottoboni falou sobre a importância da consolidação do cenário literário na cidade e da dedicação de todos os membros que agora a compõem.
O evento ocorreu no Espaço Cultural Cine Santana, dentro da programação da Semana Cultural Cassiano Ricardo.
O objetivo da Academia de Letras é valorizar e incentivar a literatura na cidade, resgatando antigos escritores e incentivando novos – conforme consta em registro.
Também estão entre os membros da Academia de Letras o Poeta Braga Barros (educador, escritor e jornalista, com seis livros publicados, diversas coletâneas e quatro peças teatrais de sua autoria, além de ser o produtor executivo da Ciranda de Poesia que acontece mensalmente na Cia Cultural Bola de Meia) e também a poetisa Rita Elisa Seda (jornalista, cronista, biógrafa e membro da UBE – União Brasileira de Escritores).
O Quarteto de Cordas da FCCR homenageia a Academia de Letras com Mozart

Giselle Lourenço com Rita Elisa Seda (escritora, poetisa, jornalista, biógrafa e membro da Academia Joseense de Letras)      
 Os imortais, ainda, receberam a homenagem do Quarteto de Cordas da Fundação Cassiano Ricardo, com um repertório belíssimo de Mozart.

Texto: Giselle Lourenço

sábado, 23 de outubro de 2010

O dia do Poeta

Da esquerda para a direita: Poeta Moraes - homenageado na Ciranda de Poesia, Giselle Lourenço, Poeta Braga Barros (membro da Academia Joseense de Letras) e Paulo Henrique

O dia do Poeta
Por Giselle Lourenço
O dia do poeta já passou. Foi ele no dia 20 de outubro. Mas que falo eu? Tamanho absurdo! O dia do poeta é hoje, foi ontem, será amanhã e daqui uns três dias, também será. O poeta tem seu dia todo dia. O poeta não conta o tempo, não conta o espaço, recria a vida, desata os nós dos sapatos, das gargantas, e desata nós. Desata-nos. Nos desata, nos desvela, nos revela. O poeta tem um rumo: é a linha do horizonte. Quanto mais anda, mais ao longe vê chegar seu destino de partida, mais de perto vê afastar sua chegada nessa vida. É assim, poetizando em despalavras, dez palavras, cinco ou duas. Quantas forem, só importa recriar o sentido e fazer sentir de novo. É a vida que não se esvai...
E no último dia 20, comemoramos o dia do Poeta em nossa Ciranda de Poesia. Foi uma festa que só a poesia pode promover. Foi a recriação da vida e todos se embebedaram de poesia. O homenageado da noite foi o Poeta Moraes – o dono do “Panfletário”, que há mais de vinte anos é distribuído pelas ruas de São José dos Campos. Sua marca: a poesia ácida, ardida. Bem politizado, o professor de história contou “causos” que transcendem a história. E no mais, é difícil explicar os propósitos de um poeta. Nas palavras do próprio Moraes, o poeta é aquele que trabalha com o que há de mais requintado na linguagem e que por isso, toca a vida com os cinco sentidos, num despertar incomum, pois a sociedade é anestesiada. E por isso, a importância do poeta: porque ele anuncia, denuncia, vê além. O poeta acorda o mundo. Os que gostam de submeter não gostam muito dos poetas, porque o poeta é alguém que retira da existência o sentido dela própria e desfaz a redoma que envolve o mundo no torpor da mediocridade.
Procurei um poema que pudesse expressar tudo isso em breves linhas, mas são tantos! Resolvi deixar aqui o escrito do xará de nosso mediador Braga Barros – um poema de Manoel Barros. Acho que os Barros são Barros porque podem remodelar o tempo todo...

O menino que carregava água na peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que era o mesmo que
Catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
(...)
Com o tempo aquele menino
Que era cismado e esquisito
Porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar
água na peneira.
No escrever o menino viu
Que era capaz de ser
Noviça, monge ou mendigo
Ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
Botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar uma tarde botando chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda
Você vai encher os
vazios com as suas
Peraltagens
E algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.

- A Ciranda de Poesia acontece mensalmente na Cia Cultural Bola de Meia

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tropa de Elite – A máxima competência do cinema brasileiro


 Por Giselle Lourenço

Na última semana, o Brasil assistiu a um show de cinema com Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora É Outro. A direção de José Padilha deixa evidente a densidade da atual situação em que vivemos, ou seja, que “o sistema é foda” – última fala no filme.
Imagino também que José Padilha só pode ser alguém de muito bom humor, pois a piada inicial no filme é bem engraçada: “trata-se de uma obra de ficção e qualquer semelhança com a realidade é coincidência...” Na verdade, penso que a única obra de ficção no filme seja mesmo o mito “Capitão Nascimento”. Talvez, Capitão Nascimento seja, em um só personagem, uma reunião de desejo de justiça de todos nós que vivemos à mercê dos três poderes nacionais: políticos, milícia e traficantes. Convenhamos, faz tempo que os três poderes deixaram de ser aqueles que aprendemos na escola, não? Alguém aí lembra do que fazem o executivo, legislativo e judiciário?
Claro que é comovente perceber que, quando o Capitão se dá conta, descobre que sempre trabalhou para o sistema, mesmo quando achava que não, ao invadir favelas e “pegar geral” abrindo trincheiras para a milícia. Pois é, minha gente, em épocas de eleição, sinto muito dizer, mas de fato, “o sistema é foda”!
Muito bem ressaltado no longa é a posição do personagem Fraga, o intelectual de esquerda, pois era ele quem conseguia manter a visão geral da situação, tanto da parte política quanto do que acontecia entre comunidade e policiais corruptos. A visão ampla do personagem sobre a disputa de poder demonstra bem o que pode alguém que, a partir da observância da realidade à sua volta, reestruturar alguns valores éticos perdidos. O personagem Fraga é intelectual, mas não é um teórico. É um político inserido, não de gabinete, mas daqueles que percebem a vida encarnada e a realidade ao seu redor.
O filme ainda deixa entrever algumas dicas de segurança pessoal, coisas simples que muitos agentes de segurança procuram repassar mas que, nem sempre funcionam: basta lembrar da cena em que o filho de Nascimento recebe o telefonema do pai – o registro está feito em seu celular com o nome do pai e não com a palavra “pai”. Muitos ainda mantém em seus celulares os registros como: mãe, pai, casa... Sabemos que isso não é seguro.
O filme poderia terminar com a imagem de Brasília e com a célebre frase que já foi por mim citada duas vezes acima. Mas isso seria demais pra nós, certo? A cena final em que, o entreabrir os olhos em recuperação na UTI, o filho de Nascimento reveste o pai de esperança, também nós podemos ficar com a mensagem do roteirista de que nem tudo está perdido. Se existe algum Capitão Nascimento, com valores e código de honra, não fascista e determinado a combater o poder público que no Brasil é caótico, que venha esse herói nacional! O nó na garganta de saber que custeamos todo “esquema” tem que ser desfeito com essa imagem de que nem tudo está perdido.
Pra quem não gosta de assistir a sangrias e violência, Tropa de Elite 2 é bem mais que isso, apesar das cenas mais rudes. É um filme complexo, que mostra a interligação das coisas, a complexidade da vida e a importância de se olhar ao redor. Enfim, com a reveladora atuação de Seu Jorge, Tropa de Elite vem sagrar de uma vez por todas o conteúdo e a super produção do cinema brasileiro.

Reabertura da Academia Joseense de Letras - veja também em http://mesadopoeta.blogspot.com

Braga Barros será membro da Academia Joseense de Letras

O poeta Paraisopolitano José Antonio Braga Barros, colunista do TEM, será empossado membro da Academia Joseense de Letras, em São José dos Campos, no dia 25 de outubro. O convite partiu do membro efetivo e mais antigo dos acadêmicos, Mário Ottoboni, que inaugura a nova fase e a reativação da Academia após 30 anos de desativação.
Para Braga Barros, como é conhecido, o convite foi "uma honra", pois para ele o que o escritor deseja é ser conhecido, lido, discutido, se possível amado.
Braga Barros, que se casou no ano da criação dqa Academia, em 1980, já desenvolvia sua vida profissional em São José dos Campos, sempre dedicada à Educação e à Poesia, como uma modo de existência e de resistência.
"Recebo este convite como um fechamento de um ciclo e a abertura de novas oportunidades. Estou às vésperas de minha aposentadoria. Ofereço esta honra de participar da Academia Joseense de Letras a todos meus colegas professores que dedicam aa suas vidas à causa da Educação. Participo desta Academia levando comigo os poetas de Paraisópiolis, não como representante deles, mas como admirador, levo a poesia do sangue de meus familiares que tanto amam a leitura, a escrita, os estudos, o conhecimento e, sobretudo, a vida.
Sem demagogia, dedico esta honra de participar da Academia Joseense de Letras às crianças e jovens do Brasil, que por falta de oportunidade, são condenados à marginalidade e ao não desenvolvimento de suas capacidades e talentos.

Sobretudo, ofereço esta honraria à minha esposa Sueli pela convivência de mais de trinta anos juntos e de aceitar construir nossas vidas entre livros, jornais, revistas e, ainda passar estes hábitos e gostos para nossos filhos.

Sinceramente, recebo este convite não como um prêmio, mas como um compromisso de dedicar ainda mais minha vida no desenvolvimento desta capacidade de ler, escrever e comunicar com as pessoas através da palavra.

Aproveito esta oportunidade para convidar todos os meus amigos e familiares para esta importante cerimônia que acontecerá no dia 25 de outubro, no Cine Santana, Avenida Rui Barbosa, bairro de Santana, em São José dos Campos, às 20 horas".

(matéria publicada no Jornal TEM, em Paraisópolis, 08 a 15 de outubro de 2010).

  José Antonio Braga Barros

Obs: Braga Barros é o mediador e produtor executivo da Ciranda de Poesia, que acontece mensalmente na Cia Cultural Bola de Meia em São José dos Campos

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Um desabafo!

Um clamor contra a imbecilidade no Brasil

Por Giselle Lourenço

Ano de 2010, em vésperas de eleições.

Escrever textos permeados de valores éticos e ideologias humanitárias nunca foi muito a minha praia. Escrevo sempre valendo-me da licença poética e apenas a poesia me basta.
Mas hoje, confesso que senti mais que um apelo interior em dizer algo sobre o comportamento imbecilizado de tantos brasileiros. Nunca senti tanto incômodo ao receber mensagens de internet com deboches em forma de montagens de alguns candidatos. O recorde dessas mediocridade deu-se em montagens e caricaturas de Dilma e Lula, muitas delas acompanhadas de textos cretinos que atestam a incapacidade brasileira de produzir argumentos ou contra argumentos sobre gestões de governo – porque se não temos argumentos ou reflexão crítica, lançamos mão do apelo às ofensas e sarcasmo.
De fato, nunca achei tão difícil escolher um candidato como nessas eleições de 2010. Não sou de direita, não sou da oposição – gosto do equilíbrio das coisas e tenho a absoluta certeza de que comportamentos extremistas sempre foram a alavanca, o fio condutor das maiores catástrofes da história da humanidade. Não sou defensora do Lula, não defendo a Dilma e acho que ser cidadão politizado é mais que uma arte. Escrever poesia é muito mais fácil. Politizar-se requer um olhar para fora de si, um movimento em direção ao outro e aos outros; politizar-se exige um interesse para além do próprio umbigo. Com isso, deduzo que a maioria dos brasileiros ainda não é politizada. E a minha revolta é, justamente, contra a imbecilidade dessa gente: gente que não sabe mas que pensa que sabe – são os piores!
Vejamos: quantos dos remetentes de tais mensagens de zombaria de políticos que realmente sabem o que estão “dizendo” ou reproduzindo? Quantos dos que encaminham tais mensagens já se interessaram verdadeiramente em acompanhar a vida desse ou daquele político? Quantos desses que encaminham e-mails antiéticos zombando de políticos que realmente se interessam por ler os currículos dos mesmos, em pesquisar a história militante de cada um, em ler os planos de governo e procurar saber de onde vieram as inspirações para tais planos, antes mesmo de questionar quais serão os principais favorecidos?
Quando falta embasamento, pensamento crítico e capacidade de raciocínio desdobrável, a imbecilidade inerente a cada um faz recorrer às agressões morais. De que me inporta saber que um político tem traços que lembram macaco, ET, Papai Noel? Se a estética é o mais novo critério para o futuro eleito, então, por favor, não votem no Tiririca! Mas sim, votem nas mulheres pêra, melancia, abacaxi, abobrinha... Essas não tem cara de avatar ou de macaco; tem peitos e bundas o bastante para que seu filho cresça sabendo que no país do carnaval é isso – e só – o que importa! Ora, do que interessa caricaturar alguém? Se queremos criticar, saiamos da imbecilidade e contra argumentemos melhor as coisas.
Queremos respeito de nossos governantes, mas não respeitamos moralmente a imagem humana. Queremos o direito e o respeito às opções sexuais, mas usamos da crítica pela opção sexual de alguém para julgar se ele é bom ou mau. Queremos liberdade de crença, de expressão, direito de ir e vir, mas agimos feito idiotas cerceando o direito de expressão daquele que nós próprios elegemos para nos representar em qualquer nível.
Muitos poderão dizer que a autora desse artigo, pouco experiente, não sabe o que escreve, ou que está imersa em aspirações utópicas. De fato, a política no Brasil virou um grande circo e não estou alienada dos últimos fatos, mas isso não nos dá o direito de também agirmos como palhaços. E eu não vou sacrificar alguns políticos nos quais acredito em detrimento de outros carreiristas de governo. Prefiro não me entregar à inércia; prefiro sair a garimpar, caçar gente de boa vontade. Prefiro isso a agir como alguém desprovido de cérebro, caricaturando imagens e fotografias de políticos, ou pior ainda, reproduzindo isso. Falamos de direitos humanos, mas os violentamos solenemente!
Essas linhas guardarei comigo para lê-las nas próximas eleições. Elas serão o meu termômetro para medir a evolução ou retrocesso da mentalidade que me rodeia. Oxalá daqui uns anos, eu receba menos e-mails com conteúdos desse tipo.
Escrevo sempre para mim e para alguns de meus leitores assíduos. Nunca pedi para que disseminassem meus textos. Mas essas linhas, clamo que me ajudem a divulgar num pequeno manifesto contra a imbecilidade de uma nação. “Brava gente brasileira! Longe vá... temor servil: ou ficar a pátria livre...”- Fiquemos livres, já que ninguém morrerá pelo Brasil. Mas fiquemos livres de fato! Livres de mediocridade das ações de ofensas éticas e morais. Tão deplorável quanto a miséria do corpo (aquela que carece de pão, de água e dignidade) é a miséria da alma. Façamos a nossa parte, pois mais tolo ainda é quem pensa que somente uma eleição pode mudar um país.
Brava gente brasileira, pode ainda ser mais brava!


Giselle Lourenço cursou teologia na Faculdade Dehoniana de Taubaté, é palestrante de cristologia na Diocese de São José dos Campos, poetisa e escritora com artigos publicados em sites e revistas de circulação no Vale do Paraíba.