segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Lançamento do Livro "Cultura Popular do Vale do Paraíba"


por Giselle Lourenço

O livro “Cultura Popular do Vale do Paraíba” de Jacqueline Baumgratz[1] nos conduz a uma viagem pelas tradições do Vale do Paraíba e pelas manifestações diversas que somam características fortes da cultura da região.
Lançado no último dia 22 de agosto na Biblioteca Municipal Henrique Macedo, na cidade de Jacareí (SP) o livro “Cultura Popular do Vale do Paraíba” de Jacqueline Baumgratz.
A intenção da autora nesta obra é de salvaguardar o valor inestimável de tantos mestres de cultura popular que por aqui afloraram e que deixaram marcas e ensinamentos que hoje são seguidos por diversas comunidades. Tratam-se de mestres que independem de títulos e de reconhecimento acadêmico para fazer valer sua contribuição na formação de pessoas e que souberam educar gerações através de seus talentos e vivências corroborando uma maior integração social, o respeito comum, a valorização dos indivíduos, a política e a cidadania.
Por entre as páginas, a autora perpassa por manifestações diversas que vão desde a atuação mestres da tradição oral a mestres artesãos, figureiras etc.
Há ainda, explicações a respeito de simbologias e rituais dessas manifestações como catira, dança de fitas, folia de reis (com o significado dos marombos entre outros), explicações sobre a árvore de Natal e o presépio, sobre a congada etc. Também há depoimentos de professores e mestres dessas manifestações e algumas letras de músicas típicas.
O acervo de fotografias nos remete ainda mais para o universo cultural sobre o qual o Vale foi edificado e nos permite conhecer mais de perto mestres como Zé Mira, Dona Lili – Figureira, Inezita Barroso, Mestre Lumumba, entre tantos outros reconhecidos mestres.
Um CD com músicas típicas das manifestações culturais acompanha o livro. Músicas que são cantadas, por exemplo, na folia de reis, na visita aos presépios, etc.
O livro “Cultura Popular do Vale do Paraíba” é uma obra que nos coloca em contato com as raízes do Vale e nos permite perceber a importância dessas manifestações para a história cultural do país. Permite às novas gerações conhecer um Vale que muito se transformou nos últimos anos, mas que ainda possui riquezas culturais inestimáveis e que vale à pena conhecê-las.
Para adquirir o livro “Cultura Popular” você pode visitar o site www.ciabolademeia.org.br e acessar a lojinha. Também pode enviar um e-mail para: ciabolademeia@ciabolademeia.org.br.
Com a autora, com quem tive o prazer de trabalhar fazendo a revisão de texto do livro.

[1] Jacqueline é educadora, pesquisadora, psicopedagoga e atriz. Coordena projetos culturais e dirige espetáculos teatrais voltados ao público infantil. Em 2009, recebeu o Prêmio Taxáua do Ministério da Cultura pela atuação e articulação como liderança em ações artísticas e culturais no Brasil e é idealizadora e presidente da Cia Cultural Bola de Meia, fundada em 1989 na cidade de São José dos Campos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011


Estamos criando uma geração de fracos, molengas e cretinos?

Em primeiro lugar, honradamente, transcrevi um artigo de um professor e psicólogo dentro desse texto que pouco tem de meu, dada a riqueza de coesão e esplendorosa clareza de idéias do autor com quem, humildemente, farei um pequeno silogismo. Silogismo esse que surgiu a partir do momento em que identifiquei no discurso do professor Luciano o encontro das águas entre o rio que caudalosamente descia pelas encostas da minha mente e o mar de grilhões fortes e contundentes de uma visão de educação a qual tendo a inclinar-me. Nesse momento, remeter-nos-emos ao texto do professor, escrito há dez anos e tão atual:

Últimos lugares

Luciano Marinho

Estudantes brasileiros, na faixa de 15 anos, integrantes das redes de ensino público e privado, se submeteram a testes de avaliação de cultura e aprendizado, num concurso internacional. Obtiveram todos eles os últimos lugares.
Um fato? Uma realidade? Um sintoma gravíssimo, que não deveria passar despercebido por aqueles que fazemos educação neste país. Um sintoma gravíssimo, até porque demonstra uma problemática conjuntural, e não apenas individual. Muito provavelmente, esse fato não tem a ver com deciências emocionais ou cognitivas.
Não obstante, tais resultados exigem uma reexão emergencial, não só de natureza pedagógica (metodológica e técnicas de aprendizagem) mas também ético-institucional.
Há de se defender a tese de que existem evidentes fatores causais de base estrutural fundados numa pseudopedagogia e numa duvidosa política de educação, os quais explicam, mas não justicam, um desempenho tão negativo e decepcionante: os últimos lugares entre representantes de 32 países.
Um desses fatores é a promoção automática, através da qual o aluno será aprovado, independentemente dos resultados alcançados. É obvio, pois, que a certeza da aprovação implica desinteresse ou desmotivação pelo estudo.181
Revisão:Leandro - Diagramação: Léo - 14/07/2011COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
O modismo da ludicidade constitui outro exemplo. Hoje em dia, na aula, o professor (coitado!) tem que tocar violão, dizer piadas de baixo nível, ou mesmo fantasiar-se de palhaço, para tornar o processo de ensino-aprendizagem agradável e ser aceito por uma clientela, salvo exceções, de imbeciloides. Estudo é coisa séria. Seríssima.
Outro fator importantíssimo: a imaturidade do aluno. Ultimamente se entra na escola no berçário, e mal completa 15 anos, já está às vésperas de um vestibular que não representa apenas um processo de seleção e classicação, mas sobretudo uma opção por determinada área de estudo, por uma prossão. Daí a situação dramática dos orientadores vocacionais.
Ademais, o excessivo número de faculdades particulares exibiliza escolhas prematuras. Coincide com os interesses subliminares do governo Federal pela amostragem dos indícios estatísticos. Mas, não basta modicar os quadros percentuais da escolaridade; em particular, da universidade brasileira, para se promover a boa educação. Como este país vive de marketing, então qualquer fantasia publicitária satisfaz.
A falta de perspectiva profissional é um outro desses fatores. Ironicamente, parece que o grande objetivo do público jovem feminino é, hoje, a carreira de modelo fotográfico; e do masculino, a opção artística de talvez tocar pandeiro num grupo de pagode. Essa geração, no futuro, não se perdoará; se insistir nesse ritmo de aspiração e estilo de vida.
Pois, somente um estudo sistemático e responsável, sério e acumulativo, é que
transformaria toda essa frustrante condição de incompetência. E transformaria, com certeza, para melhor.

Luciano Marinho é psicólogo e professor de língua portuguesa

Jornal do Commercio. Opinião. Pernambuco, 27 dez. 2001

Considerando essa exposição tão familiar aos meus pensamentos, parei para repensar os últimos paradigmas adotados pela educação atual. Uma mudança significativa aliás, quando analiso os moldes nos quais tive que me enquadrar em meu tempo de escola.
O fato é que quando penso em vários fatores que norteavam o cotidiano de uma escola de ontem e os que norteiam o cotidiano das escolas de hoje, encontro discrepâncias comportamentais significativas.
A indisciplina, por exemplo, sempre existiu em ambiente escolar. Mas custo a crer que meus colegas de ontem eram mais ou tão indisciplinados quanto os alunos de hoje. Não eram não!
Antes, quando disciplina ainda era conseguida à custa de condicionamento e poderíamos até dizer “militarismo” no melhor do sentido (pois, o termo com certeza adquiriu sentido pejorativo nos últimos tempos), os alunos não podiam gritar em sala de aula, não podiam levantar a voz ao professor, a quem, inclusive, era dada autoridade máxima em exercício de sua função. Enfim, eles não podiam se expressar assim como bem entendessem. Ao passo que, intuitivamente, concluo que eles escreviam melhor, conseguiam apreender mais informações e interpretações sobre um texto, concentravam-se melhor e mais intensamente ao invés de se perderem nas considerações infinitas de que podiam reivindicar seu bem-estar enquanto receptores do conhecimento batendo o pé como fazem hoje, gritando e ameaçando até que o educador ceda-lhe o espaço e a vontade. Pois hoje, não se pode impor nada a um educando, certo? Tudo tem que ser conversado, inclusive porque, se não se conversa com o aluno e não se lhe faz a vontade, ou o professor é ameaçado pelos pais, ou pelo próprio aluno, ou por leis que dizem que não lhe é permitido agir com autoritarismo. Acontece que disciplina por condicionamento era o que funcionava e isso nada tem a ver com autoritarismo, pois cansei de presenciar belas e duradouras amizades entre educadores e alunos em tempos passados, onde ainda se enxergava o educador como alguém que, por um determinado período da vida, assumiu a posição de um verdadeiro mestre de quem se guarda lição perene e vital. Fico então a pensar: tantos conceitos novos, tantas pesquisas tidas como evolutivas etc. Psicologias reversas, por exemplo, quase nunca as vi funcionarem. Casos esporádicos que acabam por dar certo e nada mais. E todos os dias  pergunto para onde estamos caminhando com tanta evolução e com tanta pesquisa. Tanta tecnologia, tanta possibilidade de recurso, tanta ludicidade moderna, tanta psicologia do IMATUROCENTRISMO, ou seja, a idade imatura sendo a regente de todas as coisas e a dona de todas as vozes.
Essa reflexão pode até dar margem para a desconfiança de uma mentalidade retrógrada, um abuso de autoridade, um saudosismo vazio e ignorante, discurso autocrata para políticas a punhos de ferro e dedos de bisturi, mas sei bem das transformações últimas do mundo, das respostas ineficazes de outrora para os tempos atuais, dos padrões obsoletos que não podem mais retornar, da metanóia causada pela enchente de informações cibernéticas, sei de tudo isso. Mas ainda sim, demoro a conceber que a maestria esteja no caminho certo. Se o passado já não serve, a tendência atual talvez seja duvidosa. Fatos estão aí para comprovar algumas coisas: aluno que entra atirando na escola, criança que não pode ser reprovada e chega à universidade quase semi-analfabeta, adolescente que não é capaz de escrever uma redação, pessoas que não entraram em combate na fase de formação, que não souberam o que é confronto, confronto de idéias, confronto de vontades – vale lembrar que o filósofo Nietzsche muito escreveu em toda sua obra sobre a importância do embate para que o homem cresça em caráter, força e maturidade – e que se tornarão cidadãos incapazes de argumentarem e se porão em ação feito amebas com pernas e que por não terem absorvido o gosto do verdadeiro confronto, acham que podem matar o professor porque acordou de mau humor e notou que o mundo naquele dia não estava funcionando como ele queria. Enfim, comportamentos assim não eram tão comuns em tempos em que os moldes eram arcaicos. Não dizem que o fator mais incisivo para uma nova sociedade é o educacional? Então, será que os paradigmas estão mesmo evoluindo, ou será que caminhamos para o retorno ao jardim do Éden onde tudo era perfeito mas o homem continuava sem poder conhecer?
Como diz o professor, educação é coisa séria e não brincadeira de peteca com livros e marionete com educadores, nem de telefone sem fio com a literatura e nem de amarelinha pra chegar ao céu pulando os números! Será que não estaríamos criando uma geração de fracos, molengas e cretinos?
Eu não sei responder qual o melhor caminho, mas desconfio que o atalho atual esteja errado... Deve haver um caminho do meio em que os pesquisadores esqueceram de trilhar, talvez só porque o outro caminho fosse mais bonitinho. E de desafio em desafio, vamos marchando do nada para lugar algum. 

Homeoteleuto, será que isso morde?

É de comer? É uma peça de avião? É um filósofo da Grécia Antiga? Será que isso morde?
Imaginem! O homeoteleuto é um recurso sonoro da linguagem, aliás, muito usado na poesia contemporânea. Facilmente confundido com a rima, diferencia-se desta pela repetição em forma de enumeração, ou seja, suas rimas funcionam com palavras seqüenciais e não obedecendo a uma métrica poética como nas rimas mais clássicas. Ainda não está claro? Então vamos aos exemplos.

Veja a seguir um exemplo de uma rima em um trecho de um poema de Luiz Vaz de Camões:

“Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.”

E agora veremos um exemplo de homeoteleuto. Note no que ele diferencia da rima:

“...Nos desata, dos desvela, nos revela.
...a importância do poeta: porque ele anuncia, denuncia...” (poema de minha autoria disponível neste mesmo blogue na seção “Poesia Autoral – O dia do Poeta).

Mais um exemplo de homeoteleuto de um clássico de Guimarães Rosa:

“Cassiano pensou, fumou, imaginou, trotou, cismou, e, já a duas léguas do arraial, os seus cálculos acharam conclusão.”





quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Como ensinar o Acordo Ortográfico às criancinhas?

Em tempos de acordo ortográfico, vale à pena pensar em estruturas para que as novas regras passem a vigorar na prática e isso, sem que deixemos para a última hora, como é bem característico do povo brasileiro. Só temos a lucrar com a aplicação e aprofundamento de nosso acordo nesse período de transição (que no caso, para o Brasil, o prazo vai até 2013), pois para o último momento ficará difícil assimilar algumas coisas.
Lendo um artigo de um professor de língua portuguesa respeitável de Portugal, achei interessante publicá-lo aqui. Segue:

Como ensinar o Acordo Ortográfico às criancinhas?




 Vamos assumir como ponto de partida consensual que a linguagem humana é algo que está num constante, mesmo que lento, processo de transformação, seja no sentido do seu enriquecimento (vocabular), seja no da simplificação (ortográfica).
Resultado da intra e interacção dos grupos humanos, a linguagem verbal é a forma mais específica de comunicação humana e necessita, num mundo actual massificado, de ferramentas comunicacionais estáveis e de um padrão ortográfico que fixe as características fundamentais a utilizar pelos seus falantes e escreventes.
 Por isso mesmo, não tenho uma posição de princípio contrária à existência de um Acordo Ortográfico entre as várias comunidades de utilizadores da Língua Portuguesa. Posso ter dúvidas quanto à sua configuração específica, a algumas das soluções adoptadas ou mesmo a certos argumentos usados em seu favor. Mas, globalmente e em tese, considero útil a existência de um Acordo Ortográfico, desde que ele seja suficientemente flexível para contemplar diferentes variantes e especificidades de cada uma dessas comunidades.
 Mas não é essa questão que, neste momento, me (pre)ocupa mais. Confesso que a minha maior preocupação passa, no caso particular deste Acordo Ortográfico, pela forma como se prevê a sua implementação e difusão pelo conjunto da sociedade e não apenas no papel do acordo, dos seus protocolos modificativos ou da sua ratificação.
 Vivemos actualmente num mundo extremamente veloz nas suas transformações mas que exige, em simultâneo, uma planificação cuidadosa e minimamente distendida no tempo para que algumas dessas transformações se façam sentir na sociedade de um modo uniforme e, se possível, com um nível de penetração eficaz.
 Por isso, a Escola funciona como o espaço ideal de inculcação (no bom e no menos bom sentido) nas novas gerações de algumas dessas mudanças, em particular daquelas que são promovidas pelo Estado e que dependem, para a sua difusão, de um aparato de tipo universal. E esse é o caso da apropriação do discurso escrito como ferramenta comunicacional, seja no plano da compreensão como no da produção. E é aqui que entra a questão do Acordo Ortográfico e do período de transição para a sua aplicação generalizada.
 O período de transição previsto para a adopção das novas regras ortográficas – seis anos – parece ser suficiente num primeiro olhar (o Brasil quer um período de apenas três, mas as alterações na grafia do outro lado do Atlântico são menores), mas a verdade é que, no presente momento, ainda não sabemos ao certo como se pretende operacionalizá-lo, por exemplo, através do sistema educativo.
 Mandaria o bom-senso que, logo depois de ratificado o Acordo e definida a data da sua entrada em vigor mais o período transitório, se tivesse conhecimento de um plano operacional para essa mesma aplicação nas Escolas.
 Isso implicaria ajustamentos nos programas das disciplinas de Língua Portuguesa/Português, a produção de novos manuais de acordo com as novas regras e a adaptação dos de outras disciplinas a essas mesmíssimas regras, isto para não falar da indispensável formação de professores.
 Aceitando como óbvio que agora é difícil preparar algo para o ano lectivo de 2008-2009, seria útil que essa preparação arrancasse a pensar em 2009/10 como uma data possível e desejável para a introdução das novas regras do Acordo Ortográfico nos primeiros anos dos vários ciclos de escolaridade (1º, 5º, 7º e 10º na actual configuração), por forma a conseguir em 2-3 anos alcançar todos os alunos integrados no sistema educativo. Deste modo todos os alunos que entrassem nesse ano na escolaridade obrigatória já teriam à sua espera o aparato de suporte necessário a uma aprendizagem que será difícil fazer em muitos ambientes familiares, em especial os culturalmente mais desfavorecidos, enquanto os alunos que se encontrassem então em anos intermédios ou finais de ciclo (2º, 3º, 4º, 6º, 8º, 9º) poderiam, no início do ciclo de escolaridade seguinte, (re)verem as suas aprendizagens e adaptá-las ao novo padrão. Assim só ficaria por resolver a questão dos alunos já no 11º ou 12º ano.
 Só que tudo isto se cruza com um outro processo de mudança, neste caso na área da terminologia linguística, anunciado para 2009 ou 2010 e que é o da tentativa de implementação da conhecida Terminologia Linguística Para o Ensino Básico e Secundário (TLEBS) que tanta tinta fez correr no passado recente e cujo período de consulta pública de uma versão menos polémica terminou no passado dia 16 de Junho.
 Ora os calendários previstos, no presente momento, para a generalização do Acordo Ortográfico e para a aplicação da TLEBS (ou apenas TLEB), sobrepondo-se, só são em parte concordantes. Só que, por evidentes imperativos práticos, ambos os processos deveriam ser objecto de uma implementação sincronizada no sistema educativo, de modo a que os materiais de trabalho (os já referidos programas e manuais) só sofressem um momento de reforma geral, assim como os docentes deveriam receber, em tempo útil, a formação adequada para a eventual generalização destas medidas. Só assim será possível evitar que os factores de perturbação que facilmente se adivinham possam ser reduzidos a um mínimo aceitável.
 Só que nada sabemos sobre o que se vai passar no âmbito da reformulação dos programas das disciplinas de Língua Portuguesa e Português o que coloca vários problemas aos diversos actores em presença no mundo da Educação:
Por tudo isto conviria que, em especial os mais fervorosos defensores do Acordo Ortográfico (e da TLEBS), se preocupassem em pensar nestas questões práticas que são essenciais para o sucesso prático da generalização do uso das novas regras do Acordo Ortográfico sem grandes sobressaltos e de forma articulada com outras mudanças anunciadas para o ensino da Língua Portuguesa.
 Neste particular, os Ministérios da Cultura e da Educação têm acrescidas responsabilidades.
Resta saber se disso já se aperceberam.
 Adenda: Este texto ainda é, de forma notória, escrito em modo de pré-Acordo Ortographico, digo, Ortográfico.

Paulo Guinote é Professor do 2º Ciclo do Ensino Básico. Doutorado em História da Educação. Autor do blogue “A Educação do meu Umbigo” (http://educar.wordpress.com/).





segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A importância da revisão de texto

A importância da revisão de texto e da norma culta

O que faz, exatamente, um revisor de textos? Que importância tem isso para o universo da linguagem?
Tem toda importância! Ao contrário do que muitos pensam, um revisor de textos não se esmera para transpor os termos de uma produção escrita para além do horizonte do erudito. Muito menos para alterar o conteúdo da mensagem que um autor deseja transmitir.
            A revisão de textos tem a finalidade de facilitar a comunicação entre leitor e escritor.
Nossa língua possui regras, uma padronização, a norma culta. E norma culta não significa norma pedante e sim norma cultivada ao longo dos tempos e aceita em comum acordo para ser aplicada numa determinada cultura como resultado de pesquisas extenuantes concernentes à comunicação oral, entre outros fatores. E é tão importante quanto a escrita de uma partitura o é para o universo musical. Imagine se não houvesse uma padronização na maneira de grafar uma peça musical: a mesma música seria escrita de diversas maneiras e nenhum músico conseguiria interpretá-la ou executá-la. Da mesma forma, se não houvesse uma norma culta, alguém poderia grafar lebre querendo dizer gato e quem poderia dizer que seria o contrário? E ao mesmo tempo, quantos entenderiam gato e quantos entenderiam lebre? Seria uma verdadeira Torre de Babel. E é por isso que uma das funções de um revisor trata-se de adequar a grafia do texto à norma culta da língua, no nosso caso, a língua portuguesa, e a mensagem que se deseja emitir em muito depende de uma boa revisão e adequação dos padrões da língua.
Alguns empreendedores da escrita – por vezes, autores que se aventuram em produções independentes ou por vezes, entidades de renome – permitem-se a aventura de publicações sem revisões. Tarefa perfeitamente possível? Claro! Mas entenda-se que capacidade criativa de produção escrita é uma coisa, pleno domínio da língua escrita é outra, e que raríssimas exceções possuem o mérito de conjugar as duas coisas na mais plena harmonia. As imagens abaixo falam por si.


  Duas ocorrências no fenômeno da escrita chamam minha atenção: a primeira seria a dificuldade que alguns letrados, indivíduos um pouco mais eruditos possuem quanto à habilidade (ou falta dela) para transpor a linguagem. E transpor a linguagem também é uma ferramenta poderosa de comunicação, além de não desmerecer a escrita apenas porque as construções são expostas de modo mais acessível. E por falar em texto acessível, chego agora na segunda questão: alguém que escreve com a mais nobre das intenções de transpor tanto a linguagem que chega a ofender alguns. Às vezes, na tentativa de se situar na mesma linguagem de um matuto, por exemplo, a pessoa que quer comunicar por meio da escrita acaba fazendo um movimento tão forçado para ir ao encontro de determinado sotaque, usando jargões e elementos gráficos oriundos daquela fonética regional como que para provocar a empatia de determinados destinatários daquela mensagem. O que muitos autores esquecem é de considerarem que o efeito pretendido poderá ser exatamente o inverso, pois não é só porque alguém diz “nóis pode, nóis vai, tudu bein cocêis”, que esse alguém irá querer ler um texto assim. Bom, isso é uma abordagem para um estudo à parte. Acabei abrindo uma janela linguística que, merecidamente, deveria ter uma cadeira cativa entre as disciplinas das escolas públicas e privadas, separadas das tradicionais aulas de língua portuguesa, porém, como uma extensão muito necessária para o bom aprendizado da mesma. E vale ressaltar que não sou especialista em linguística mas não poderia deixar passar a observação.
Gostaria de lembrar o quão árdua é a tarefa de revisar uma obra literária permeada de poemas, poesias, metáforas etc. O universo poético cria suas próprias regras e cada vez mais me encontro com neo-poetas. E com isso, chega uma avalanche de licença poética. E então, exige-se mais que um olho clínico para a análise estética e gramatical... Uma carga de inteligência cognitiva e experiências com relações humanas fazem-se necessárias neste momento: garantir minimamente a coesão de uma linguagem artística, intencionalmente desapropriada de padrão, requer a integração de todo universo da linguagem, requer, com “olhar de cego”, compreender que tudo fala, palavras escritas ou silenciadas.
Meu esforço com esse texto é de expor que a norma padrão não se trata de mais uma variante linguística como tantas que temos em nosso país, e sim uma ferramenta que, bem aceita e com pleno domínio de utilização, pode promover uma evolução da comunicação e que, longe de ser uma ferramenta de elite usada para o domínio de poucos sobre a grande massa, sua apropriação e o incentivo de seu correto uso pode mover uma nação inteira para um sentido mais evolutivo, evitando assim, o domínio de uma suposta elite sobre os desavisados gramaticais. Lembrando, ainda, que a escrita não possui o auxílio dos gestos e tudo deve ser evidenciado no texto, e por isso tanta preocupação e zelo pela atividade de produção escrita. E acrescentando que uma língua só ganha força ou poder quanto maior for sua uniformidade, sua padronização.
Tomo a liberdade de terminar esse texto citando um outro muito interessante que li no blog de uma colega <http://arevisaodetextos.blogspot.com/> e merece ser reproduzido.
“O revisor se define não por seus conhecimentos, mas por seu perfil psíquico. A revisão é mais que uma profissão:  uma neurose. Esta neurose se caracteriza como uma espécie de sacrifício consentido (desejado) pelo revisor; é um tributo à saúde (qualidade) da edição. O revisor se oferece, sempre, em sacrifício à Deusa do Idioma Francês, portanto, todos aqueles que se dedicam a esse ofício nunca serão normais. (...) Para o revisor, o importante não é o que ele sabe, mas o que ele está consciente de não saber ou, pelo menos, não saber totalmente, e que por isso exige permanente verificação. (...) O revisor não lê como todos os demais homens leem, ele fotografa a palavra visualmente. (...) O exercício da profissão do revisor pode ser descrito, perfeitamente, como uma 'leitura angustiada'. O seu trabalho é, justamente, evitar que todos os outros seres humanos necessitem fazer essa leitura angustiada.” (Sophie Brissaud,* La lecture angoissée ou la mort du correcteur*, tradução de Sandra Baldessin)


terça-feira, 24 de maio de 2011

Música e Linguagem - Cantor, compositor e poeta! Alessandro Zamah

Cantor e compositor, Alessandro Zamah é, hoje, um dos expoentes da MPB no Vale do Paraíba. Estou longe de ser crítica de música, mas posso falar de suas letras; suas composições são verdadeiras obras-primas. Mas ainda, dentro do universo musical, ouso dizer que seu trabalho seria digno de tomar proporções além da regionalidade.
Contudo, deterei-me nas considerações lingüísticas de suas composições – objetivo dessa matéria.
Li, certa vez, que pelo fato de poemas e letras musicais pertencerem a universos distintos, quem faz um não sabe fazer o outro. Essa afirmação pode até servir para a maioria, mas não me parece ser o caso do cantor e compositor Zamah. Quem compõe a letra musical precisa considerar aspectos que o poema ignora como ascendência ou descendência de melodia, pausas, etc. e por esse motivo, às vezes, a letra pode sofrer algum empobrecimento poético. Já o poema é autossuficiente, não precisa recorrer a nada. Mas nas letras de Zamah, me parece que o encontro de poema e letra foi glorioso.
Ainda preciso considerar a ausência de “virundum”[i] – que apesar de ser uma interessante brincadeira lingüística, faz com que sua ausência nos permita ressaltar a integridade sonora de voz e instrumentos que são ouvidos. No caso de Zamah, é possível compreender totalmente cada palavra cantada, entoada, declamada.
E é considerando esse raro talento em compor, ao mesmo tempo, músicas e poesias, que resolvi destacar o processo de criação do compositor. O cantor e compositor Zamah, gentilmente, respondeu a algumas perguntas para o blog do Bacia Literária e você poderá conferi-las agora:

Bacia Literária – Zamah, suas canções parecem ter uma integração natural entre o que está sendo dito e o modo de dizer. Todo o enunciado parece já vir com a melodia e toda a melodia parece já vir com a letra. Como se dá seu processo de criação? Com o que você preocupa-se num primeiro momento? Música ou poesia? Há a possibilidade de os dois fluírem, realmente juntos?

Zamah – No meu caso dificilmente as duas coisas podem fluir juntas, a melodia vem sempre em primeiro lugar como acontece com a maioria dos compositores, e quando ela surge já dá pra sentir o que a música quer.

Bacia Literária – Há algum ícone na música ou na poesia que inspirou suas composições? Algum “mestre” em especial?

Zamah – Seria uma injustiça da minha parte citar um nome. Minhas influências são inúmeras tanto na poesia quanto na música de norte a sul do Brasil. Minha maneira de compôr segue a estrutura de três movimentos, muito presente no cancioneiro popular, tipico do chorinho.

Bacia Literária – “Tingindo a sala de som”, “formei uma imagem na emoção”, “o silêncio agora entoa”... Essas figuras e metáforas que você usa, de onde surgem? O que colabora com sua criatividade?
Zamah –
Tingindo a sala de som fala do resultado do processo da composição; já em relação à letra “Pintou Saudade”, “formar uma imagem” traz a lembrança viva da pessoa amada no imaginário do eu lírico criativo; estas metáforas surgem de inspirações motivadas por momentos, pessoas e lugares...
Agora Sou fala de término de relacionamento e inicio de uma nova fase da vida, de ressignificações...

Bacia Literária – Suas letras traduzem uma identidade. Retratam, na maioria das vezes, exaltação da natureza, simplicidade de vida e evolução de espírito. Essa identidade é a mesma do compositor? Há uma simbiose entre quem está retratado nas letras e quem é Zamah?

Zamah – Sim, como não haveria de ser? Está no coração, na alma,e que reflete diretamente nas atitudes. Acredito o que artista num modo geral tem uma responsabilidade ainda maior em estar em verdade com o que mostra em sua arte.
Bacia Literária – A música “Coração de Plástico” é quase um grito, um a nos coloca numa pelo à sociedade atual. Conte-nos sobre sua motivação ao compor essa belíssima letra.
Zamah – "Coração de plástico" se enquadra bem ao momento atual de nossa sociedade que vive nos grandes centros urbanos. Cada um por si, o "ter maior do que ser". A frieza, o medo tomou conta e nos coloca numa condição ainda maior de isolamento.

         Zamah
(Cantor e Compositor)
Abaixo, você poderá ouvir uma de suas belas canções: "Musicando".  Seu CD, recentemente lançado, intitulado “Caçador de Cachoeira”, encontra-se à venda em seu site www.zamah.com.br.




[i] Virundum é uma espécie de traição do sentido da audição e teve sua inauguração com o Hino Nacional, onde “Ouviram do Ipiranga” tornou-se “virundum”. Outros exemplos de virundum: “Eu perguntava do you wanna dance?” tornou-se “Eu perguntava tudo em holandês” / “Tocando B.B.King sem parar” tornou-se “trocando de biquíni sem parar”, entre muitos outros exemplos conhecidos popularmente.

sábado, 7 de maio de 2011



Na onde? 






Já é sabido entre alguns dos leitores que vivo na cidade de São José dos Campos, um centro nervoso de tecnologia e um pólo industrial. Tanta tecnologia assim deveria proporcionar uma evolução em todos os âmbitos da vida, mas não é o que parece ocorrer. Pelo menos não na questão da linguagem.
Andam surgindo expressões por aí que até pouco tempo atrás, não me recordo de as ouvir na região. E antes que algum lingüista alucinado resolva proclamar a validade lingüística de algumas delas, é melhor fazer alguma coisa a respeito.
Um exemplo da colossal aberração tem sido a expressão “na onde”. Ouço pessoas dizendo: “Na onde você vai?” “Na onde você comprou esse sapato?”
Dentro dos limites geográficos em que permaneço no decorrer de meus dias, convivo com algumas classes diferentes. Classes, aqui, pode-se entender como classes comportamentais, pois nem sempre a classe social é que dita o perfil ou interesses de uma pessoa. Convivo com classes mais intelectuais, com classes mais alienadas, com grupos massivos que se permitem levar ao sabor dos ventos, e não noto a expressão em todos esses grupos, mas o fato é que em algumas camadas ou em alguns grupos, esse tipo de expressão tem se tornado muito corriqueiro.
Recorro aos amigos, possíveis leitores desse blog, que sejam especialistas em língua, em gramática, pesquisadores dos fenômenos lingüísticos, para que dissipem a minha dúvida se trata-se de algo extremamente local. Não sei se essa expressão tem sido usada fora dos muros do Vale do Paraíba. Alguém aí consegue dizer?
 Bom, mas aos desavisados de plantão, a correção que eu gostaria de fazer era essa:

Não se diz: “na onde”.  – Isso, simplesmente, não existe!
Ou se diz “onde”, ou se diz “aonde”. Ambos são advérbios de lugar e são empregados da seguinte forma: Onde, para designar um local permanente (Ex. Onde você comprou esse sapato?). Aonde, para designar uma condição de movimento (Ex. Aonde você vai?), ou seja, para onde você vai.

Vale lembrar que “na” = em + a, então, se quero usar de qualquer jeito a preposição na minha construção, basta dizer: Em que lugar você vai?

Eu estou num estado primário de revolta presenciando o advento de uma expressão tão estapafúrdia como esta e a tenho escutado de pessoas que eu nem esperava uma lástima dessas.

Pra finalizar, tenho vontade de gritar, minha gente: “Na onde” não existe! Por favor!
Tenho uma teoria de como essa expressão possa ter surgido e me arriscaria a esboçá-la aqui, mas talvez seja texto para um próximo momento. Vamos aguardar a segunda parte, até porque, estou curiosa para ler comentários a esse respeito antes.

Giselle

sábado, 30 de abril de 2011

Uma nota

 Perguntaram-me por que a bacia está parada faz um tempo. Bom, a bacia está parada por causa das panelas. É isso mesmo! Até entrar no ritmo do casamento, leva um tempo. Mas em breve, voltaremos com as coisas de nossa língua dentro da bacia com inspirações ao som de violino e panelas! Até breve e obrigada aos amigos que compareceram no casamento mais real que o da realeza! hahaha