quarta-feira, 14 de março de 2012

Poesia Chinesa

A poesia chinesa, assim como a arte da pintura chinesa, está imbuída de toda sua filosofia milenar, ou seja, a forma tradicional, mística e totalmente simples de ver o mundo e de apreender a essência das coisas - enxergar as coisas como elas realmente são. Geralmente, todo o pensamento chinês é intimamente ligado ao Tao, que num sentido mais literal quer dizer "Caminho", mas também quer dizer algo bem maior e ao mesmo tempo algo muito simples. A mística taoista consiste em ir ao cerne do objeto e de não separar observador e objeto: tudo é uno. O Tao é simples e é a partir dele que muitos poetas se inspiram para escreverem seus textos. Talvez, necessite, num outro momento, de uma maior explanação sobre a essência das coisas para ocidentais não iniciados na filosofia taoista, pois há relutância devido ao condicionamento histórico-cultural.
Importa saber que, para o poeta chinês, é quase unanimidade a descrição da afinidade pessoal com a natureza em suas poesias - essa seria a marca dos poetas taoistas.
Outra coisa interessante é que a métrica da poesia chinesa consiste, na maioria das vezes, por uma formação de seis a sete sílabas por verso - um poder de síntese inigualável, que daí podemos entrever aquilo que, anteriormente, referi como "o simples". O simples está em tudo na escrita chinesa! Para traduzir com lealdade esses versos de seis ou sete sílabas, seja para o inglês ou para o português, não gastaríamos menos que duas linhas, isso se o tradutor tiver um poder de síntese e concisão precisos! 
É comum funcionários atarefados utilizarem suas pausas para escrever suas poesias. Na poesia a seguir, algumas alegorias podem ser observadas com total significado embasado no pensamento chinês, como por exemplo "cortinas de névoa", que significam a percepção do vazio ilimitado.
"O crepúsculo descendo do ermo", provavelmente, alude ao horário do dia, em que, para o pensamento taoista, o anoitecer e a calmaria da madrugada é o momento em que a essência do universo encontra-se em maior união com a essência do corpo humano, momento mais propício para a pausa da meditação.
O silêncio citado no poema é condição à priori para a serenidade e esta, por sua vez, é a antessala para a iluminação interior. Segue a poesia:

Desmontado do cavalo,
O crepúsculo descendo no ermo, 
Ouço no silêncio
O murmúrio de um regato da montanha.
Pássaros cantam, pétalas caem;
Nenhum sinal de gente. 
A janela de minha cabana
Tem uma nuvem branca por cortina.

Ch`uan Tê-yu, descrevendo uma visita à montanha sagrada Mao Shan. Tradução para o inglês: John Blofeld.
Mais poesias taoistas podem ser encontradas em: BLOFELD, John. Taoismo, O Caminho Para a Imortalidade. Editora Pensamento, 1979.

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