sábado, 7 de maio de 2011



Na onde? 






Já é sabido entre alguns dos leitores que vivo na cidade de São José dos Campos, um centro nervoso de tecnologia e um pólo industrial. Tanta tecnologia assim deveria proporcionar uma evolução em todos os âmbitos da vida, mas não é o que parece ocorrer. Pelo menos não na questão da linguagem.
Andam surgindo expressões por aí que até pouco tempo atrás, não me recordo de as ouvir na região. E antes que algum lingüista alucinado resolva proclamar a validade lingüística de algumas delas, é melhor fazer alguma coisa a respeito.
Um exemplo da colossal aberração tem sido a expressão “na onde”. Ouço pessoas dizendo: “Na onde você vai?” “Na onde você comprou esse sapato?”
Dentro dos limites geográficos em que permaneço no decorrer de meus dias, convivo com algumas classes diferentes. Classes, aqui, pode-se entender como classes comportamentais, pois nem sempre a classe social é que dita o perfil ou interesses de uma pessoa. Convivo com classes mais intelectuais, com classes mais alienadas, com grupos massivos que se permitem levar ao sabor dos ventos, e não noto a expressão em todos esses grupos, mas o fato é que em algumas camadas ou em alguns grupos, esse tipo de expressão tem se tornado muito corriqueiro.
Recorro aos amigos, possíveis leitores desse blog, que sejam especialistas em língua, em gramática, pesquisadores dos fenômenos lingüísticos, para que dissipem a minha dúvida se trata-se de algo extremamente local. Não sei se essa expressão tem sido usada fora dos muros do Vale do Paraíba. Alguém aí consegue dizer?
 Bom, mas aos desavisados de plantão, a correção que eu gostaria de fazer era essa:

Não se diz: “na onde”.  – Isso, simplesmente, não existe!
Ou se diz “onde”, ou se diz “aonde”. Ambos são advérbios de lugar e são empregados da seguinte forma: Onde, para designar um local permanente (Ex. Onde você comprou esse sapato?). Aonde, para designar uma condição de movimento (Ex. Aonde você vai?), ou seja, para onde você vai.

Vale lembrar que “na” = em + a, então, se quero usar de qualquer jeito a preposição na minha construção, basta dizer: Em que lugar você vai?

Eu estou num estado primário de revolta presenciando o advento de uma expressão tão estapafúrdia como esta e a tenho escutado de pessoas que eu nem esperava uma lástima dessas.

Pra finalizar, tenho vontade de gritar, minha gente: “Na onde” não existe! Por favor!
Tenho uma teoria de como essa expressão possa ter surgido e me arriscaria a esboçá-la aqui, mas talvez seja texto para um próximo momento. Vamos aguardar a segunda parte, até porque, estou curiosa para ler comentários a esse respeito antes.

Giselle

2 comentários:

  1. Terrible!!! Dói o "zovido". Mais fácil dizer "donde" rsrsrs Lembrei do (para mim) triste "de boa". Sobre a sua sugestão do "Em que lugar você vai?" soa mais como lugar do ônibus, avião em que se viaja (frente, meio, fundos). Prefiro mais um "A que lugar você vai?".

    P.S.: No post anterior, você inicia com um "Me perguntaram...". Já regulamentaram esta forma de se usar o pronome, iniciando a frase? Eu sou do tempo em que jamais, never se inicia uma frase com pronome. Usa-se sempre a ênclise. Mas lembro-me do Pasquale falando que a tendência seria a flexibilização.

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  2. Ah, eu sabia que era necessário o seu comentário! rs
    Realmente, O exemplo que dei foi incompleto. Poderia ser empregado "A que lugar você vai" para substituir na condição de movimento como o "aonde", e também poderia ser empregado "Em que lugar você está?" para substituir o lugar na condição estática, como você exemplifica no "ponto de ônibus".

    Quanto à última publicação, não, não há tendência. Eu burlei a regra e já estou a me redimir. Ó, céus! rsrs Só existiria próclise se o verbo que usei estivesse no particípio, por exemplo. Na circunstância em questão, errado! rsrs Valeu!

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