quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tropa de Elite – A máxima competência do cinema brasileiro


 Por Giselle Lourenço

Na última semana, o Brasil assistiu a um show de cinema com Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora É Outro. A direção de José Padilha deixa evidente a densidade da atual situação em que vivemos, ou seja, que “o sistema é foda” – última fala no filme.
Imagino também que José Padilha só pode ser alguém de muito bom humor, pois a piada inicial no filme é bem engraçada: “trata-se de uma obra de ficção e qualquer semelhança com a realidade é coincidência...” Na verdade, penso que a única obra de ficção no filme seja mesmo o mito “Capitão Nascimento”. Talvez, Capitão Nascimento seja, em um só personagem, uma reunião de desejo de justiça de todos nós que vivemos à mercê dos três poderes nacionais: políticos, milícia e traficantes. Convenhamos, faz tempo que os três poderes deixaram de ser aqueles que aprendemos na escola, não? Alguém aí lembra do que fazem o executivo, legislativo e judiciário?
Claro que é comovente perceber que, quando o Capitão se dá conta, descobre que sempre trabalhou para o sistema, mesmo quando achava que não, ao invadir favelas e “pegar geral” abrindo trincheiras para a milícia. Pois é, minha gente, em épocas de eleição, sinto muito dizer, mas de fato, “o sistema é foda”!
Muito bem ressaltado no longa é a posição do personagem Fraga, o intelectual de esquerda, pois era ele quem conseguia manter a visão geral da situação, tanto da parte política quanto do que acontecia entre comunidade e policiais corruptos. A visão ampla do personagem sobre a disputa de poder demonstra bem o que pode alguém que, a partir da observância da realidade à sua volta, reestruturar alguns valores éticos perdidos. O personagem Fraga é intelectual, mas não é um teórico. É um político inserido, não de gabinete, mas daqueles que percebem a vida encarnada e a realidade ao seu redor.
O filme ainda deixa entrever algumas dicas de segurança pessoal, coisas simples que muitos agentes de segurança procuram repassar mas que, nem sempre funcionam: basta lembrar da cena em que o filho de Nascimento recebe o telefonema do pai – o registro está feito em seu celular com o nome do pai e não com a palavra “pai”. Muitos ainda mantém em seus celulares os registros como: mãe, pai, casa... Sabemos que isso não é seguro.
O filme poderia terminar com a imagem de Brasília e com a célebre frase que já foi por mim citada duas vezes acima. Mas isso seria demais pra nós, certo? A cena final em que, o entreabrir os olhos em recuperação na UTI, o filho de Nascimento reveste o pai de esperança, também nós podemos ficar com a mensagem do roteirista de que nem tudo está perdido. Se existe algum Capitão Nascimento, com valores e código de honra, não fascista e determinado a combater o poder público que no Brasil é caótico, que venha esse herói nacional! O nó na garganta de saber que custeamos todo “esquema” tem que ser desfeito com essa imagem de que nem tudo está perdido.
Pra quem não gosta de assistir a sangrias e violência, Tropa de Elite 2 é bem mais que isso, apesar das cenas mais rudes. É um filme complexo, que mostra a interligação das coisas, a complexidade da vida e a importância de se olhar ao redor. Enfim, com a reveladora atuação de Seu Jorge, Tropa de Elite vem sagrar de uma vez por todas o conteúdo e a super produção do cinema brasileiro.

2 comentários:

  1. Belo texto e o filme realmente é incrível!

    ResponderExcluir
  2. Giselle, este é o melhor texto que li daqueles que se propuseram a falar acerca do Tropa de Elite II. Parabéns amiga!

    ResponderExcluir