Com Ludmila Saharovsky (poetisa, cronista, dramaturga e autora de Tempo Submerso) |
Ando pensando sobre os caminhos aos quais minhas escolhas têm me levado.
Indiscutivelmente, é significativo o número de literatos que, de alguma forma, convivem comigo. E como é natural de minha personalidade, tendo sempre a perguntar o porquê disso, uma vez que não sou uma escritora. Perguntar é sempre bom. Aqui, uma pausa para contemplar pessoas que me inspiram. Viver rodeada de gente criativa ilumina os escombros que, às vezes, saltam à nossa frente.
Volto à pergunta. Perguntar deveria ser um costume sincero. Nessas fórmulas de exames de consciência que, às vezes, recebemos por aí, deveria conter uma sessão só de perguntas.
Perguntar é a mais sincera maneira de examinar-se. E as respostas? Quem pergunta precisa de respostas, não é?
Não! Nem sempre. Muitas vezes, basta a pergunta. Em alguns casos, a pergunta é a melhor resposta que alguém pode receber.
E é por isso que eu ando perguntando, dentro desse meu contexto, "qual é a parte que me cabe deste latifúndio?".
Ando cansada das respostas. Hoje, muita gente tem resposta pra tudo e está todo mundo certo sobre tudo. Essa enxurrada de respostas retira da vida o que ela nos oferece de mais sublime: o maravilhamento diante da descoberta. Quem descobre, nem sempre descobre por que alguém respondeu. Aliás, as maiores descobertas vieram de um processo entre a dúvida, o caminho e a luz no exato momento. Dificilmente, uma grande descoberta vem através de filtros de milhares de respostas.
Seria muito bom se perguntássemos mais do que respondêssemos. A maior ignorância da vida não é ter muitas perguntas e sim muitas e imutáveis respostas. Estamos cheios de especialistas por aqui. E tenho que, diariamente, ouvir e tropeçar nas respostas de todos os "especialistas" espalhados por essa terra de Santa Cruz, e também por essa terra de ninguém que é a internet.
Nessas horas, lamento o silêncio dos bons. Porque, enquanto os "especialistas" estão regurgitando suas milhares de respostas, os bons estão aceitando essas respostas sem fazer nenhuma pergunta. É como diz uma história de tradição católica que, em 23 de dezembro de 428, um arcebispo de Constantinopla teria dito que a Virgem Maria dera à luz pela via auditiva. Tanto é que, em Recife, a Igreja Madre de Deus, dando vazão à lenda, colocou um painel com essa gravura na arcada direita do altar principal. Percebe-se o Espírito Santo caindo sobre a orelha esquerda da Virgem, fecundando-a. E é daí que vem, então, a expressão "emprenhar-se pelos ouvidos". E tem sido assim, 16 séculos passados, muita gente continua aceitando, sem questionamentos, algumas histórias que são contadas por aí.
Eu retomo minha pergunta e convido-te a fazer a mesma: "qual a parte que me cabe neste latifúndio?".
Aos que me inspiram, apenas uma pergunta: o que pode ser melhor do que gente que nos faz perguntar?
Giselle Lourenço
Que venham mais e mais perguntas, sinto que as respostas ficarão em nós como construção de sabedoria. Que bom!
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