Que surpresas e luzes podem nos revelar a sabedoria monástica!
Hoje, li por acaso um artigo que causou-me tanta admiração (um assunto que jamais imaginei que pudesse ser discorrido ou refletido) e ao final do texto, descobri que o autor era nada menos que Dom Bernardo Bonowitz, o Abade do Mosteiro Nossa Senhora do Novo Mundo no Paraná, um lugar que visitei duas vezes e que até hoje me traz maravilhosas lembranças e onde pude conhecer o próprio Dom Bernardo, quem me recebeu com alegria e simplicidade...
Diz a regra de São Bento que o décimo grau de humildade consiste em que o monge não seja pronto e fácil ao riso. Contudo, Dom Bernardo faz questão de explicar que a regra não exclui a realidade sorridente de um monge. Então, numa escala de um a cinco, Dom Bernardo explica quais seriam os tipos de risos, do mais indesejado até o riso ideal.
1- O riso sardônico: seria um tipo de riso de quem não se encanta por mais nada na vida e a enxerga como uma grande piada. Ri do belo, do nobre, do santo... É como se tivesse sofrido uma decepção em que não pôde suportar e não consegue mais dar crédito a nenhuma realidade, por mais humana ou caridosa que seja.
2- O riso zombeteiro: é o riso debochado. Quando alguém está a fazer o seu melhor e, humanamente, pode não atender os critérios mais refinados e recebe risos e zombaria em troca como se tivesse desempenhando um ridículo papel. Esse tipo de riso pode abrir feridas incuráveis na alma de seu alvo.
3- O riso escapista: é o riso de quem não lida bem com o peso e responsabilidade da vida adulta, de quem considera deveras séria a vida com responsabilidades, sente um fardo ao executar tarefas que lhe exigem o pensamento e a concentração e então, tem uma necessidade constante de se distrair. Dom Abade dá vários exemplos de distração, muito comuns na vida moderna. Um exemplo que eu mesma ouso citar e do qual ele não fala seria a necessidade que as pessoas têm hoje de rir com distrações como "reality shows" ou "stand ups", por exemplo.
4- O riso de comunhão: é o riso de quem partilha o mesmo ideal de vida e que saboreiam uma experiência comum. E para isso ele dá o exemplo de um casal apaixonado, que mesmo sem um motivo específico, pontual, riem apenas por estarem na presença um do outro, como se fosse um estado interior de sorriso que externiza no movimento muscular do sorriso. Do quarto em diante, já estamos no terreno do riso ideal.
5- O riso escatológico: o riso que riremos no fim dos tempos. E ele usa a realidade do "já" e do "ainda não" para ilustrar que, esperar o fim dos tempos não significa esperar cessar a vida terrena para desfrutar de um gozo celestial, pois esse riso ainda não irrompido em exultação eterna já começou desde que o "Logos" - o Filho de Deus quis rir conosco aqui na terra, e que irrompe não só na liturgia mas também na oração ou no simples afeto humano.
Dom Abade termina num colóquio com São Bento, com a certeza de que o Santo, certamente, dera boas risadas com o assunto do texto. Ora, Dom Bernardo, se ele deu risada, foi a risada escatológica, que já comporta a risada de comunhão.
Foi bom demais ler essas suas palavras. Entender que há humildade e sabedoria até para entregar-se ao riso só podia mesmo ser coisa de monge. E coisa de monge é sempre coisa boa! Deus guarde a Trapa e os monges alegres que por lá conheci!
Foi bom demais ler essas suas palavras. Entender que há humildade e sabedoria até para entregar-se ao riso só podia mesmo ser coisa de monge. E coisa de monge é sempre coisa boa! Deus guarde a Trapa e os monges alegres que por lá conheci!
Giselle Lourenço
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