segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A importância da revisão de texto

A importância da revisão de texto e da norma culta

O que faz, exatamente, um revisor de textos? Que importância tem isso para o universo da linguagem?
Tem toda importância! Ao contrário do que muitos pensam, um revisor de textos não se esmera para transpor os termos de uma produção escrita para além do horizonte do erudito. Muito menos para alterar o conteúdo da mensagem que um autor deseja transmitir.
            A revisão de textos tem a finalidade de facilitar a comunicação entre leitor e escritor.
Nossa língua possui regras, uma padronização, a norma culta. E norma culta não significa norma pedante e sim norma cultivada ao longo dos tempos e aceita em comum acordo para ser aplicada numa determinada cultura como resultado de pesquisas extenuantes concernentes à comunicação oral, entre outros fatores. E é tão importante quanto a escrita de uma partitura o é para o universo musical. Imagine se não houvesse uma padronização na maneira de grafar uma peça musical: a mesma música seria escrita de diversas maneiras e nenhum músico conseguiria interpretá-la ou executá-la. Da mesma forma, se não houvesse uma norma culta, alguém poderia grafar lebre querendo dizer gato e quem poderia dizer que seria o contrário? E ao mesmo tempo, quantos entenderiam gato e quantos entenderiam lebre? Seria uma verdadeira Torre de Babel. E é por isso que uma das funções de um revisor trata-se de adequar a grafia do texto à norma culta da língua, no nosso caso, a língua portuguesa, e a mensagem que se deseja emitir em muito depende de uma boa revisão e adequação dos padrões da língua.
Alguns empreendedores da escrita – por vezes, autores que se aventuram em produções independentes ou por vezes, entidades de renome – permitem-se a aventura de publicações sem revisões. Tarefa perfeitamente possível? Claro! Mas entenda-se que capacidade criativa de produção escrita é uma coisa, pleno domínio da língua escrita é outra, e que raríssimas exceções possuem o mérito de conjugar as duas coisas na mais plena harmonia. As imagens abaixo falam por si.


  Duas ocorrências no fenômeno da escrita chamam minha atenção: a primeira seria a dificuldade que alguns letrados, indivíduos um pouco mais eruditos possuem quanto à habilidade (ou falta dela) para transpor a linguagem. E transpor a linguagem também é uma ferramenta poderosa de comunicação, além de não desmerecer a escrita apenas porque as construções são expostas de modo mais acessível. E por falar em texto acessível, chego agora na segunda questão: alguém que escreve com a mais nobre das intenções de transpor tanto a linguagem que chega a ofender alguns. Às vezes, na tentativa de se situar na mesma linguagem de um matuto, por exemplo, a pessoa que quer comunicar por meio da escrita acaba fazendo um movimento tão forçado para ir ao encontro de determinado sotaque, usando jargões e elementos gráficos oriundos daquela fonética regional como que para provocar a empatia de determinados destinatários daquela mensagem. O que muitos autores esquecem é de considerarem que o efeito pretendido poderá ser exatamente o inverso, pois não é só porque alguém diz “nóis pode, nóis vai, tudu bein cocêis”, que esse alguém irá querer ler um texto assim. Bom, isso é uma abordagem para um estudo à parte. Acabei abrindo uma janela linguística que, merecidamente, deveria ter uma cadeira cativa entre as disciplinas das escolas públicas e privadas, separadas das tradicionais aulas de língua portuguesa, porém, como uma extensão muito necessária para o bom aprendizado da mesma. E vale ressaltar que não sou especialista em linguística mas não poderia deixar passar a observação.
Gostaria de lembrar o quão árdua é a tarefa de revisar uma obra literária permeada de poemas, poesias, metáforas etc. O universo poético cria suas próprias regras e cada vez mais me encontro com neo-poetas. E com isso, chega uma avalanche de licença poética. E então, exige-se mais que um olho clínico para a análise estética e gramatical... Uma carga de inteligência cognitiva e experiências com relações humanas fazem-se necessárias neste momento: garantir minimamente a coesão de uma linguagem artística, intencionalmente desapropriada de padrão, requer a integração de todo universo da linguagem, requer, com “olhar de cego”, compreender que tudo fala, palavras escritas ou silenciadas.
Meu esforço com esse texto é de expor que a norma padrão não se trata de mais uma variante linguística como tantas que temos em nosso país, e sim uma ferramenta que, bem aceita e com pleno domínio de utilização, pode promover uma evolução da comunicação e que, longe de ser uma ferramenta de elite usada para o domínio de poucos sobre a grande massa, sua apropriação e o incentivo de seu correto uso pode mover uma nação inteira para um sentido mais evolutivo, evitando assim, o domínio de uma suposta elite sobre os desavisados gramaticais. Lembrando, ainda, que a escrita não possui o auxílio dos gestos e tudo deve ser evidenciado no texto, e por isso tanta preocupação e zelo pela atividade de produção escrita. E acrescentando que uma língua só ganha força ou poder quanto maior for sua uniformidade, sua padronização.
Tomo a liberdade de terminar esse texto citando um outro muito interessante que li no blog de uma colega <http://arevisaodetextos.blogspot.com/> e merece ser reproduzido.
“O revisor se define não por seus conhecimentos, mas por seu perfil psíquico. A revisão é mais que uma profissão:  uma neurose. Esta neurose se caracteriza como uma espécie de sacrifício consentido (desejado) pelo revisor; é um tributo à saúde (qualidade) da edição. O revisor se oferece, sempre, em sacrifício à Deusa do Idioma Francês, portanto, todos aqueles que se dedicam a esse ofício nunca serão normais. (...) Para o revisor, o importante não é o que ele sabe, mas o que ele está consciente de não saber ou, pelo menos, não saber totalmente, e que por isso exige permanente verificação. (...) O revisor não lê como todos os demais homens leem, ele fotografa a palavra visualmente. (...) O exercício da profissão do revisor pode ser descrito, perfeitamente, como uma 'leitura angustiada'. O seu trabalho é, justamente, evitar que todos os outros seres humanos necessitem fazer essa leitura angustiada.” (Sophie Brissaud,* La lecture angoissée ou la mort du correcteur*, tradução de Sandra Baldessin)


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