Você sabe qual a
origem da palavra “conserva” ou “conservo”?
Significa,
literalmente – com servo.
E isso, graças
ao filósofo Hegel (filósofo moderno alemão) que construiu um pensamento de
dialética em que um sujeito só se afirma em sua relação com o outro e que,
isoladamente, nada representa.
Difícil? Nem
tanto... Hegel fala da sobreposição das coisas, e em seu célebre caso “Senhor e
Servo” ele nos introduz à sua dialética, de onde podemos entender então, a
origem da palavra em
questão. Vejamos a metáfora hegeliana a seguir:
Dialética do senhor e do
escravo
Dois homens se enfrentam
numa luta de reconhecimento. O primeiro arrisca a sua vida em prol do
reconhecimento, o outro, por medo de perder a sua vida, se submete. Instaura-se
assim uma relação entre senhor e servo. Senhor é senhor pelo seu servo e o
servo é servo pelo seu senhor. Nenhum deles é o que é sem o outro. Este é o
reconhecimento. O vencedor (o senhor) não mata seu adversário vencido (o
servo), mas o conserva, pois é pelo servo que o senhor é reconhecido como
senhor. Conservar, literalmente, significa com-servo, isto é, produzir um
servo, que é resultado imediato da luta pelo reconhecimento.[1]
É claro que isso
é uma metáfora e que servo e senhor aqui podem significar muitas coisas. O
importante é fazer a relação da etimologia da palavra que usamos atualmente.
Hegel observou esta dialética quando notou que a derrota prussiana foi um “mal
necessário” ao espírito alemão, que serviu de alavanca para que, naquela
situação histórica, a Alemanha pudesse ressurgir das cinzas.[2]
Fazendo então
uma atualização semântica, podemos estabelecer uma relação de que tudo aquilo
que mantemos conosco de maneira submissa equivale ao que irá nos servir.
Mantemos uma relação de senhor com algo que dominamos e que prevemos com
relação a como o objeto irá nos servir, por quanto tempo e de que maneira. Continuando
o desdobramento filosófico do tema, é bom saber que há uma lógica interna da
dialética hegeliana que se trata de uma marcha negativa da dialética. A
metáfora de Hegel continua sua explicação dizendo que pelo fato de o servo
ficar alheio aos produtos que produz para o seu senhor, acaba tendo que superar
suas provações, tem que lutar e usar de criatividade para viver sem aquilo que
produz para o senhor, e isso o transforma em um indivíduo que ganha mais
liberdade que o seu próprio senhor porque produz e o senhor, por sua vez,
apenas consome. A incapacidade senhoril de produzir e de criar, levando o senhor
a ficar refém da produção de seu servo é chamada por Hegel de desvanecer contido, e a mudança de
perspectiva de liberdade criada pelo servo é por ele chamada de desejo refreado.
Assim, quando
você tem uma lata de azeitona em conserva em sua geladeira, a relação de
conserva é cíclica, seguindo os moldes dialéticos hegelianos. Por quê? Porque
ao mesmo tempo em que a azeitona é a senhora da relação entre ela e o líquido
no qual está imersa, ela também é a portadora de um desvanecer contido, uma vez que, depende daquele líquido para
permanecer em sua utilidade no fim para o qual foi posta em conserva.
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