quinta-feira, 1 de setembro de 2011


Estamos criando uma geração de fracos, molengas e cretinos?

Em primeiro lugar, honradamente, transcrevi um artigo de um professor e psicólogo dentro desse texto que pouco tem de meu, dada a riqueza de coesão e esplendorosa clareza de idéias do autor com quem, humildemente, farei um pequeno silogismo. Silogismo esse que surgiu a partir do momento em que identifiquei no discurso do professor Luciano o encontro das águas entre o rio que caudalosamente descia pelas encostas da minha mente e o mar de grilhões fortes e contundentes de uma visão de educação a qual tendo a inclinar-me. Nesse momento, remeter-nos-emos ao texto do professor, escrito há dez anos e tão atual:

Últimos lugares

Luciano Marinho

Estudantes brasileiros, na faixa de 15 anos, integrantes das redes de ensino público e privado, se submeteram a testes de avaliação de cultura e aprendizado, num concurso internacional. Obtiveram todos eles os últimos lugares.
Um fato? Uma realidade? Um sintoma gravíssimo, que não deveria passar despercebido por aqueles que fazemos educação neste país. Um sintoma gravíssimo, até porque demonstra uma problemática conjuntural, e não apenas individual. Muito provavelmente, esse fato não tem a ver com deciências emocionais ou cognitivas.
Não obstante, tais resultados exigem uma reexão emergencial, não só de natureza pedagógica (metodológica e técnicas de aprendizagem) mas também ético-institucional.
Há de se defender a tese de que existem evidentes fatores causais de base estrutural fundados numa pseudopedagogia e numa duvidosa política de educação, os quais explicam, mas não justicam, um desempenho tão negativo e decepcionante: os últimos lugares entre representantes de 32 países.
Um desses fatores é a promoção automática, através da qual o aluno será aprovado, independentemente dos resultados alcançados. É obvio, pois, que a certeza da aprovação implica desinteresse ou desmotivação pelo estudo.181
Revisão:Leandro - Diagramação: Léo - 14/07/2011COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
O modismo da ludicidade constitui outro exemplo. Hoje em dia, na aula, o professor (coitado!) tem que tocar violão, dizer piadas de baixo nível, ou mesmo fantasiar-se de palhaço, para tornar o processo de ensino-aprendizagem agradável e ser aceito por uma clientela, salvo exceções, de imbeciloides. Estudo é coisa séria. Seríssima.
Outro fator importantíssimo: a imaturidade do aluno. Ultimamente se entra na escola no berçário, e mal completa 15 anos, já está às vésperas de um vestibular que não representa apenas um processo de seleção e classicação, mas sobretudo uma opção por determinada área de estudo, por uma prossão. Daí a situação dramática dos orientadores vocacionais.
Ademais, o excessivo número de faculdades particulares exibiliza escolhas prematuras. Coincide com os interesses subliminares do governo Federal pela amostragem dos indícios estatísticos. Mas, não basta modicar os quadros percentuais da escolaridade; em particular, da universidade brasileira, para se promover a boa educação. Como este país vive de marketing, então qualquer fantasia publicitária satisfaz.
A falta de perspectiva profissional é um outro desses fatores. Ironicamente, parece que o grande objetivo do público jovem feminino é, hoje, a carreira de modelo fotográfico; e do masculino, a opção artística de talvez tocar pandeiro num grupo de pagode. Essa geração, no futuro, não se perdoará; se insistir nesse ritmo de aspiração e estilo de vida.
Pois, somente um estudo sistemático e responsável, sério e acumulativo, é que
transformaria toda essa frustrante condição de incompetência. E transformaria, com certeza, para melhor.

Luciano Marinho é psicólogo e professor de língua portuguesa

Jornal do Commercio. Opinião. Pernambuco, 27 dez. 2001

Considerando essa exposição tão familiar aos meus pensamentos, parei para repensar os últimos paradigmas adotados pela educação atual. Uma mudança significativa aliás, quando analiso os moldes nos quais tive que me enquadrar em meu tempo de escola.
O fato é que quando penso em vários fatores que norteavam o cotidiano de uma escola de ontem e os que norteiam o cotidiano das escolas de hoje, encontro discrepâncias comportamentais significativas.
A indisciplina, por exemplo, sempre existiu em ambiente escolar. Mas custo a crer que meus colegas de ontem eram mais ou tão indisciplinados quanto os alunos de hoje. Não eram não!
Antes, quando disciplina ainda era conseguida à custa de condicionamento e poderíamos até dizer “militarismo” no melhor do sentido (pois, o termo com certeza adquiriu sentido pejorativo nos últimos tempos), os alunos não podiam gritar em sala de aula, não podiam levantar a voz ao professor, a quem, inclusive, era dada autoridade máxima em exercício de sua função. Enfim, eles não podiam se expressar assim como bem entendessem. Ao passo que, intuitivamente, concluo que eles escreviam melhor, conseguiam apreender mais informações e interpretações sobre um texto, concentravam-se melhor e mais intensamente ao invés de se perderem nas considerações infinitas de que podiam reivindicar seu bem-estar enquanto receptores do conhecimento batendo o pé como fazem hoje, gritando e ameaçando até que o educador ceda-lhe o espaço e a vontade. Pois hoje, não se pode impor nada a um educando, certo? Tudo tem que ser conversado, inclusive porque, se não se conversa com o aluno e não se lhe faz a vontade, ou o professor é ameaçado pelos pais, ou pelo próprio aluno, ou por leis que dizem que não lhe é permitido agir com autoritarismo. Acontece que disciplina por condicionamento era o que funcionava e isso nada tem a ver com autoritarismo, pois cansei de presenciar belas e duradouras amizades entre educadores e alunos em tempos passados, onde ainda se enxergava o educador como alguém que, por um determinado período da vida, assumiu a posição de um verdadeiro mestre de quem se guarda lição perene e vital. Fico então a pensar: tantos conceitos novos, tantas pesquisas tidas como evolutivas etc. Psicologias reversas, por exemplo, quase nunca as vi funcionarem. Casos esporádicos que acabam por dar certo e nada mais. E todos os dias  pergunto para onde estamos caminhando com tanta evolução e com tanta pesquisa. Tanta tecnologia, tanta possibilidade de recurso, tanta ludicidade moderna, tanta psicologia do IMATUROCENTRISMO, ou seja, a idade imatura sendo a regente de todas as coisas e a dona de todas as vozes.
Essa reflexão pode até dar margem para a desconfiança de uma mentalidade retrógrada, um abuso de autoridade, um saudosismo vazio e ignorante, discurso autocrata para políticas a punhos de ferro e dedos de bisturi, mas sei bem das transformações últimas do mundo, das respostas ineficazes de outrora para os tempos atuais, dos padrões obsoletos que não podem mais retornar, da metanóia causada pela enchente de informações cibernéticas, sei de tudo isso. Mas ainda sim, demoro a conceber que a maestria esteja no caminho certo. Se o passado já não serve, a tendência atual talvez seja duvidosa. Fatos estão aí para comprovar algumas coisas: aluno que entra atirando na escola, criança que não pode ser reprovada e chega à universidade quase semi-analfabeta, adolescente que não é capaz de escrever uma redação, pessoas que não entraram em combate na fase de formação, que não souberam o que é confronto, confronto de idéias, confronto de vontades – vale lembrar que o filósofo Nietzsche muito escreveu em toda sua obra sobre a importância do embate para que o homem cresça em caráter, força e maturidade – e que se tornarão cidadãos incapazes de argumentarem e se porão em ação feito amebas com pernas e que por não terem absorvido o gosto do verdadeiro confronto, acham que podem matar o professor porque acordou de mau humor e notou que o mundo naquele dia não estava funcionando como ele queria. Enfim, comportamentos assim não eram tão comuns em tempos em que os moldes eram arcaicos. Não dizem que o fator mais incisivo para uma nova sociedade é o educacional? Então, será que os paradigmas estão mesmo evoluindo, ou será que caminhamos para o retorno ao jardim do Éden onde tudo era perfeito mas o homem continuava sem poder conhecer?
Como diz o professor, educação é coisa séria e não brincadeira de peteca com livros e marionete com educadores, nem de telefone sem fio com a literatura e nem de amarelinha pra chegar ao céu pulando os números! Será que não estaríamos criando uma geração de fracos, molengas e cretinos?
Eu não sei responder qual o melhor caminho, mas desconfio que o atalho atual esteja errado... Deve haver um caminho do meio em que os pesquisadores esqueceram de trilhar, talvez só porque o outro caminho fosse mais bonitinho. E de desafio em desafio, vamos marchando do nada para lugar algum. 

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