O mais recente livro resenhado: Depois do fim, do autor Alex Bezerra de Menezes. Livro prefaciado por Leandro Karnal. Editora Simonsen.
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terça-feira, 12 de julho de 2016
quarta-feira, 6 de julho de 2016
Carta aberta aos eruditos-burros
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Crédito: Jean-Baptiste Camille Coro/Web Gallery of Art (Domínio público) A leitora adornada com flores, 1845, óleo sobre tela, Museu do Louvre, Paris, França. |
Carta aberta aos
eruditos-burros:
eruditos-burros:
Caro erudito,
Venho acompanhando suas críticas mordazes ao português falado e
escrito do brasileiro mediano, que não acumulou, como você, o conhecimento de
toda a humanidade ocupando o trono apocalíptico da sabedoria livresca.
Preciso informar-lhe que esse é um problema
estrutural que, antes de ser passível de críticas por aqueles que se pensam
discípulos de Padre Antônio Vieira, deve ser tratado com seriedade, deve ser
pensado e estudado para que todo cidadão possa, da norma-padrão, servir-se
quando necessário, nas ocasiões em que ela, a dona norma, for exigência para a
inclusão, seja intelectual, social, mercantil, acadêmica etc.
Eu poderia rir sarcasticamente de você e elevar esse
problema de domínio da norma-padrão quando você, ao criticar o português do
cidadão mediano, não sabe quando usar "este" ou "esse";
poderia dar continuidade à sua piada usando-a contra você, assumindo o papel de
advogada do diabo, ao ver que você não emprega corretamente a mesóclise ou pensa
estar arrasando empregando-a em abundância, sem ao menos saber que esta se encontra em desuso, com uma razoável tendência a cair em breve. Poderia,
inclusive, escrever uma carta a você desdenhando do seu uso indevido de crase
quando escreve: "Irei à Miami". Se em Miami houver boas gramáticas de
Língua Portuguesa, aproveite para enriquecer sua estante, mas as leia,
principalmente.
A menos que você saiba descrever todos os erros
gramaticais contidos nas obras de Machado de Assis, não queira desdenhar do problema
linguístico que enfrenta nossa educação. Já passei da fase em que achar graça
das placas de vendas como "Vende verdura cem agrotoxio" me fazia
sentir superior, linguisticamente falando.
Caro erudito-burro, não me responsabilizo pelo
termo "erudito-burro". A menos que a tradução esteja aquém, esse é um
termo usado pelo filósofo alemão Schopenhauer para descrever pessoas como você,
que não tendo a capacidade de dar à luz novas concepções e reflexões mais
profundas a partir do conhecimento inicial, apenas reproduz ou vomita aquilo
que leu e decorou nas enciclopédias por aí. Mas eu gostei do termo e não me
sinto ofendendo ninguém, visto que a justificativa é cabível. Talvez, se você
retirar sua arrogância do discurso, que é a matéria-prima daquilo que te deixa
burro, eu deixe então de usar o termo schopenhaueriano.
E se você não é um erudito, mesmo que burro, menos
ainda desdenhe desse problema estrutural. Se você sequer tem a companhia dos
livros e não pratica a leitura frequente, não escarneça de sua própria
desgraça. Dizem que não é bom.
Ass. uma professora qualquer
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